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Longa brasileiro ganha recepção calorosa
PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
"Cinema, Aspirinas e Urubus",
de Marcelo Gomes, segundo longa-metragem brasileiro exibido
na mostra "Um Certo Olhar" do
Festival de Cannes, ganhou ontem uma recepção calorosa em
sua sessão oficial, no Théâtre
Claude Debussy do Palácio do
Festival. Antes da projeção, que
começou às 16h30 (hora da França), o filme foi apresentado pessoalmente por Thierry Frémaux,
diretor-geral de Cannes e o responsável pela seleção.
Frémaux pediu que o ministro
Gilberto Gil, que chegou a Cannes
e estava na platéia, se levantasse
para receber uma salva de palmas,
no que foi atendido de pronto.
Logo depois, chamou ao palco a
equipe do filme, incluindo a produtora Sara Silveira, o diretor
Marcelo Gomes, o diretor de fotografia Mauro Pinheiro, a montadora Karen Harley e os atores
João Miguel e Peter Ketnath. Ao
final, os holofotes apontaram a
equipe na platéia, que aplaudia
intensamente.
Em seu longa de estréia, Gomes
narra o encontro inusitado do
nordestino Randolpho (Miguel) e
do alemão Johann (Ketnath), que
se cruzam no sertão nordestino
durante os anos 1940.
Randolpho está a caminho do
Rio de Janeiro, onde pretende recomeçar sua vida, e Johann, fugido da Alemanha, pouco antes de
explodir a guerra, exerce seu curioso trabalho: ele percorre pequenas cidades com um caminhão equipado com um projetor
cinematográfico. Todas as noites,
passa pequenos documentários
sobre o Brasil, na verdade pretextos para a apresentação de peças
publicitárias anunciando o produto que vende, aspirinas.
"Cinema, Aspirinas e Urubus" é
mais que um conto lacônico sobre
uma amizade inusitada. Gomes
inverte expectativas ao apresentar
um alemão doce e aberto à vida,
em contraste com um brasileiro
cínico e descrente, que não
agüenta mais viver e testemunhar
a miséria. O tempo todo confrontam-se duas visões de mundo, onde temperamentos são postos à
prova para que, no fim, a solidariedade prevaleça.
Pelas lentes do fotógrafo Mauro
Pinheiro, o sertão ganha um visual diferente, esbranquiçado e
seco, sem glamour possível. E pelo caminho de Randolpho e Jonah
cruzam ainda vários personagens
que são interpretados ora por atores profissionais, ora por não-atores. "Cinema, Aspirinas e Urubus", assim como "Cidade Baixa", de Sérgio Machado, apresentado anteontem, não estão na
principal mostra competitiva,
mas concorrem a dois prêmios
importantes: melhor filme da
mostra "Um Certo Olhar" (que
tem como presidente do júri Alexander Payne, diretor de "Sideways - Entre Umas e Outras") e a
Caméra d'Or, troféu dado ao diretor do melhor longa de estréia de
qualquer sessão do festival (com
júri presidido pelo iraniano Abbas Kiarostami). Os resultados serão conhecidos no sábado.
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