São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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Longa brasileiro ganha recepção calorosa

PEDRO BUTCHER
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Cinema, Aspirinas e Urubus", de Marcelo Gomes, segundo longa-metragem brasileiro exibido na mostra "Um Certo Olhar" do Festival de Cannes, ganhou ontem uma recepção calorosa em sua sessão oficial, no Théâtre Claude Debussy do Palácio do Festival. Antes da projeção, que começou às 16h30 (hora da França), o filme foi apresentado pessoalmente por Thierry Frémaux, diretor-geral de Cannes e o responsável pela seleção.
Frémaux pediu que o ministro Gilberto Gil, que chegou a Cannes e estava na platéia, se levantasse para receber uma salva de palmas, no que foi atendido de pronto.
Logo depois, chamou ao palco a equipe do filme, incluindo a produtora Sara Silveira, o diretor Marcelo Gomes, o diretor de fotografia Mauro Pinheiro, a montadora Karen Harley e os atores João Miguel e Peter Ketnath. Ao final, os holofotes apontaram a equipe na platéia, que aplaudia intensamente.
Em seu longa de estréia, Gomes narra o encontro inusitado do nordestino Randolpho (Miguel) e do alemão Johann (Ketnath), que se cruzam no sertão nordestino durante os anos 1940.
Randolpho está a caminho do Rio de Janeiro, onde pretende recomeçar sua vida, e Johann, fugido da Alemanha, pouco antes de explodir a guerra, exerce seu curioso trabalho: ele percorre pequenas cidades com um caminhão equipado com um projetor cinematográfico. Todas as noites, passa pequenos documentários sobre o Brasil, na verdade pretextos para a apresentação de peças publicitárias anunciando o produto que vende, aspirinas.
"Cinema, Aspirinas e Urubus" é mais que um conto lacônico sobre uma amizade inusitada. Gomes inverte expectativas ao apresentar um alemão doce e aberto à vida, em contraste com um brasileiro cínico e descrente, que não agüenta mais viver e testemunhar a miséria. O tempo todo confrontam-se duas visões de mundo, onde temperamentos são postos à prova para que, no fim, a solidariedade prevaleça.
Pelas lentes do fotógrafo Mauro Pinheiro, o sertão ganha um visual diferente, esbranquiçado e seco, sem glamour possível. E pelo caminho de Randolpho e Jonah cruzam ainda vários personagens que são interpretados ora por atores profissionais, ora por não-atores. "Cinema, Aspirinas e Urubus", assim como "Cidade Baixa", de Sérgio Machado, apresentado anteontem, não estão na principal mostra competitiva, mas concorrem a dois prêmios importantes: melhor filme da mostra "Um Certo Olhar" (que tem como presidente do júri Alexander Payne, diretor de "Sideways - Entre Umas e Outras") e a Caméra d'Or, troféu dado ao diretor do melhor longa de estréia de qualquer sessão do festival (com júri presidido pelo iraniano Abbas Kiarostami). Os resultados serão conhecidos no sábado.


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