São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

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ANÁLISE

Animação na madrugada é novo nicho da TV

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Entre um seriado dramático e outro, há uma curiosa presença na madrugada do canal Fox: os desenhos animados.
Em "Uma Família da Pesada", um menino pequeno lê, compenetrado, "O Príncipe", de Maquiavel. Chocada com o que considera uma conduta inadequada do filho, a mãe, dona-de-casa convencional, em uma série de movimentos autoritários decididos, arranca o livro das mãos da criança, liga a TV e ordena ao menino que veja "Teletubbies".
Já "Futurama", um desenho de ficção científica, satiriza a banalização da TV contemporânea.
O sucesso dos canais infantis é conhecido. Cartoon Network, Nickelodeon e Fox Kids se afirmaram na liderança de audiência da TV fechada graças à exibição contínua de desenhos animados, clássicos, antigos e contemporâneos.
Do insubstituível "Tom e Jerry" ao já quarentão "Scooby Doo", passando pelas recentes sagas japonesas, hits entre as crianças do planeta, para não falar dos convencionais super-heróis e das mais corretas "As Meninas Superpoderosas", a exibição contínua de cartuns 24 horas por dia faz a cabeça do público televisivo. Tudo bem.
O interessante é que um canal adulto, que procura explicitamente a identificação com o público masculino, entre um comercial de programa de sacanagem e outro, exibe uma série de animações, entre cépticas, cínicas e entediantes.
Na linha pioneira consagrada por "Os Simpsons", surgiu uma série de desenhos sarcásticos. O humor negro bem-sucedido de "South Park" talvez seja o mais célebre. Mas, na madrugada do canal americano, há outros exemplos sofríveis.
Uns mais, outros menos, esses desenhos operam curiosas inversões. O uso da linguagem não realista da animação permite vôos sugestivos. A abertura desse nicho para produções independentes brasileiras seria promissora...


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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