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ANÁLISE
Animação na madrugada é novo nicho da TV
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Entre um seriado dramático
e outro, há uma curiosa presença na madrugada do canal
Fox: os desenhos animados.
Em "Uma Família da Pesada",
um menino pequeno lê, compenetrado, "O Príncipe", de Maquiavel. Chocada com o que considera uma conduta inadequada
do filho, a mãe, dona-de-casa
convencional, em uma série de
movimentos autoritários decididos, arranca o livro das mãos da
criança, liga a TV e ordena ao menino que veja "Teletubbies".
Já "Futurama", um desenho de
ficção científica, satiriza a banalização da TV contemporânea.
O sucesso dos canais infantis é
conhecido. Cartoon Network,
Nickelodeon e Fox Kids se afirmaram na liderança de audiência
da TV fechada graças à exibição
contínua de desenhos animados,
clássicos, antigos e contemporâneos.
Do insubstituível "Tom e Jerry"
ao já quarentão "Scooby Doo",
passando pelas recentes sagas japonesas, hits entre as crianças do
planeta, para não falar dos convencionais super-heróis e das
mais corretas "As Meninas Superpoderosas", a exibição contínua
de cartuns 24 horas por dia faz a
cabeça do público televisivo. Tudo bem.
O interessante é que um canal
adulto, que procura explicitamente a identificação com o público masculino, entre um comercial de programa de sacanagem e
outro, exibe uma série de animações, entre cépticas, cínicas e entediantes.
Na linha pioneira consagrada
por "Os Simpsons", surgiu uma
série de desenhos sarcásticos. O
humor negro bem-sucedido de
"South Park" talvez seja o mais
célebre. Mas, na madrugada do
canal americano, há outros exemplos sofríveis.
Uns mais, outros menos, esses
desenhos operam curiosas inversões. O uso da linguagem não realista da animação permite vôos
sugestivos. A abertura desse nicho para produções independentes brasileiras seria promissora...
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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