São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Livro reavalia obra de Artacho Jurado

Autor de prédios que hoje são marcos em SP, como o Bretagne, em Higienópolis, ganha publicação que explica seu trabalho

Criticado em sua época, arquiteto é valorizado hoje pelo uso de cores diferentes e formas irregulares e pelas grandes áreas de convivência


MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Autor de aberrações arquitetônicas, erradas de cima a baixo. Seria um deboche gostar de tal obra. Assim foi avaliado pelo respeitado arquiteto Eduardo Corona (1921-2001) o edifício Bretagne, projeto de João Artacho Jurado (1907-1983), na revista "Acrópole", em 1958. Hoje, o Bretagne é considerado uma pérola em Higienópolis, um dos mais valorizados bairros de São Paulo, e seus outros projetos têm alta valorização no mercado imobiliário.
Um livro recente conta essa trajetória inusual. "Artacho Jurado - Arquitetura Proibida" (ed. Senac São Paulo), de Ruy Eduardo Debs Franco, tem lançamento amanhã na livraria Saraiva do shopping Pátio Paulista, em São Paulo.

Trajetória
Autodidata e empreiteiro, Jurado foi uma figura ímpar na arquitetura paulista entre os anos 40 e 70. Filho de Ramón Jurado, anarquista espanhol que trabalhou como condutor de bondes em São Paulo, ele foi letrista (criava tipos de letra e fazia letreiros) no Rio, mas iniciou-se na atividade arquitetônica projetando pavilhões de feiras nos anos 30. Nesses eventos, aproximou-se de políticos importantes, como Adhemar de Barros (1901-1969), depois governador paulista.
Com o irmão Aurélio, começou em 1946 a construir conjuntos de casas -na Vila Romana e depois no Brooklin. "Ele foi tomando gosto pela atividade e, com o sucesso de suas casas, resolveu fazer prédios. São Paulo também passava por uma grande verticalização", diz Franco, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Santos.
Em alguns de seus primeiros prédios, como o Duque de Caxias e o General Jardim, no centro de São Paulo, seu desenho é mais discreto, ainda bastante influenciado pelo estilo de Rino Levi (1901-1965), um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil.
"Só depois ele desenvolveu o que é hoje o mais marcante em seu estilo: o uso de cores incomuns, como o rosa e o amarelo, e as formas um tanto irregulares e estranhas em seus empreendimentos em Higienópolis", conta Franco.
Assim, surgem alguns dos seus edifícios mais famosos: o Cinderela, o Bretagne e o Parque das Hortênsias. Neste último, por exemplo, se destacam os pilotis do térreo, além da cobertura com a caixa d'água e a sala das máquinas projetadas com formas irregulares.
"Com essas cores e geometrias diferentes, ele personalizava uma área que seria somente feia. Além disso, os terraços-jardim e as grandes áreas de convivência davam um ar público aos seus projetos", avalia o autor do livro.

Oposição
O sucesso de Jurado como empreiteiro, junto com sua formação apenas empírica na área, fez com que ele fosse persona non grata entre nomes-chave da arquitetura paulista da época, como Corona e Vilanova Artigas (1915-1985), apontou a pesquisa de Franco. Depois de uma crise em sua empresa, o final da carreira de Jurado foi marcado pelo projeto de residências simples em São Bernardo, no ABC paulista.


ARTACHO JURADO - ARQUITETURA PROIBIDA
Autor: Ruy Eduardo Debs Franco
Editora: Senac São Paulo
Quanto: R$ 80 (338 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h, na livraria Saraiva do shopping Pátio Paulista (r. 13 de Maio, 1.947, tel 0/xx/11/3289-5873)



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