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Livro reavalia obra de Artacho Jurado
Autor de prédios que hoje são marcos em SP, como o Bretagne, em Higienópolis, ganha publicação que explica seu trabalho
Criticado em sua época, arquiteto é valorizado hoje pelo uso de cores diferentes e formas irregulares e pelas grandes áreas de convivência
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Autor de aberrações arquitetônicas, erradas de cima a baixo. Seria um deboche gostar de
tal obra. Assim foi avaliado pelo
respeitado arquiteto Eduardo
Corona (1921-2001) o edifício
Bretagne, projeto de João Artacho Jurado (1907-1983), na revista "Acrópole", em 1958.
Hoje, o Bretagne é considerado uma pérola em Higienópolis, um dos mais valorizados
bairros de São Paulo, e seus outros projetos têm alta valorização no mercado imobiliário.
Um livro recente conta essa
trajetória inusual. "Artacho Jurado - Arquitetura Proibida"
(ed. Senac São Paulo), de Ruy
Eduardo Debs Franco, tem lançamento amanhã na livraria
Saraiva do shopping Pátio Paulista, em São Paulo.
Trajetória
Autodidata e empreiteiro,
Jurado foi uma figura ímpar na
arquitetura paulista entre os
anos 40 e 70. Filho de Ramón
Jurado, anarquista espanhol
que trabalhou como condutor
de bondes em São Paulo, ele foi
letrista (criava tipos de letra e
fazia letreiros) no Rio, mas iniciou-se na atividade arquitetônica projetando pavilhões de
feiras nos anos 30. Nesses
eventos, aproximou-se de políticos importantes, como Adhemar de Barros (1901-1969), depois governador paulista.
Com o irmão Aurélio, começou em 1946 a construir conjuntos de casas -na Vila Romana e depois no Brooklin.
"Ele foi tomando gosto pela
atividade e, com o sucesso de
suas casas, resolveu fazer prédios. São Paulo também passava por uma grande verticalização", diz Franco, arquiteto e
professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Santos.
Em alguns de seus primeiros
prédios, como o Duque de Caxias e o General Jardim, no
centro de São Paulo, seu desenho é mais discreto, ainda bastante influenciado pelo estilo
de Rino Levi (1901-1965), um
dos precursores da arquitetura
moderna no Brasil.
"Só depois ele desenvolveu o
que é hoje o mais marcante em
seu estilo: o uso de cores incomuns, como o rosa e o amarelo,
e as formas um tanto irregulares e estranhas em seus empreendimentos em Higienópolis", conta Franco.
Assim, surgem alguns dos
seus edifícios mais famosos: o
Cinderela, o Bretagne e o Parque das Hortênsias. Neste último, por exemplo, se destacam
os pilotis do térreo, além da cobertura com a caixa d'água e a
sala das máquinas projetadas
com formas irregulares.
"Com essas cores e geometrias diferentes, ele personalizava uma área que seria somente feia. Além disso, os terraços-jardim e as grandes áreas de
convivência davam um ar público aos seus projetos", avalia
o autor do livro.
Oposição
O sucesso de Jurado como
empreiteiro, junto com sua formação apenas empírica na
área, fez com que ele fosse persona non grata entre nomes-chave da arquitetura paulista
da época, como Corona e Vilanova Artigas (1915-1985), apontou a pesquisa de Franco.
Depois de uma crise em sua
empresa, o final da carreira de
Jurado foi marcado pelo projeto de residências simples em
São Bernardo, no ABC paulista.
ARTACHO JURADO -
ARQUITETURA PROIBIDA
Autor: Ruy Eduardo Debs Franco
Editora: Senac São Paulo
Quanto: R$ 80 (338 págs.)
Lançamento: amanhã, às 19h, na livraria Saraiva do shopping Pátio
Paulista (r. 13 de Maio, 1.947, tel
0/xx/11/3289-5873)
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