São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Crítica/música/"Nothing But the Best"

Coletânea tem boas canções de Sinatra, mas não "só o melhor"

Lançamento conta com gravações do selo Reprise, criado pelo cantor em 1960

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Lançado a propósito dos dez anos da morte de Frank Sinatra (completados na última quarta-feira), o CD "Nothing But the Best" (Warner) deveria ter recebido um título menos pretensioso.
Qualquer um que conheça a obra do cantor, o maior intérprete da canção norte-americana no século 20, sabe que suas obras-primas foram gravadas pelo selo Capitol, nos anos 50.
Portanto, uma compilação de gravações feitas a partir de 1960 não justifica o oportunismo do "somente o melhor".
Claro que muitas das 21 faixas desse CD, gravadas originalmente pelo selo Reprise, que o próprio Sinatra criou e conduziu a partir de 1960, estão longe de serem medíocres. Ao concretizar o desejo de ser dono de sua própria gravadora, algo raro até então no mercado fonográfico, o cantor soube se cercar de ótimos músicos.
A seleção começa com a elegante gravação de "Come Fly with Me", canção encomendada pelo próprio Sinatra aos compositores Sammy Cahn e Jimmy Van Heusen e que emprestou o título a um de seus mais cultuados álbuns, lançado pela Capitol, em 1958. Em "The Best Is Yet to Come", a faixa seguinte, a voz segura do cantor surge à frente da irresistível orquestra de Count Basie, em arranjo de Quincy Jones, que também assina a versão da descontraída "The Good Life".
Outros arranjadores do primeiro time do jazz e da canção americana da época se sucedem no CD, como Billy May, Gordon Jenkins, Don Costa e, naturalmente, Nelson Riddle, colaborador de Sinatra em várias de suas gravações mais apreciadas. Sem falar no tão cultuado Claus Ogerman, representado pelo arranjo de "The Girl from Ipanema", que Sinatra gravou ao lado do próprio Tom Jobim, em 1967, contribuindo para que ela se tornasse uma das canções mais populares de todos os tempos.

Amargura
Em meio a outros grandes sucessos do cantor, como "New York, New York" e "My Way", típicos da última fase de sua carreira, na qual a leveza e o romantismo de seus anos áureos foram substituídos por uma considerável dose de amargura, também surgem gravações menos inspiradas, como "All My Tomorrows" e "That's Life".
Mas medíocre mesmo é o meloso arranjo de Torrie Zito para a balada "Body and Soul", que Frank Sinatra Jr., filho do cantor e herdeiro de seu espólio, regeu e gravou em 2007 para acompanhar uma gravação não-finalizada pelo pai, registrada em 1984. Incluída na compilação como faixa-bônus inédita, trata-se de truque de estúdio (e de marketing) que não acrescenta nada de significativo à obra do intérprete. Sinatra merecia mais respeito.


NOTHING BUT THE BEST
Artista: Frank Sinatra
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 42, em média
Avaliação: bom



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