São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Zélia Gattai morre em Salvador aos 91

Mulher de Jorge Amado sofreu parada cardiorrespiratória em hospital onde estava internada desde 17 de abril

Corpo será cremado no bairro de Brotas, onde vivia; cinzas serão jogadas ao lado das do marido; governo da Bahia decreta luto de 3 dias

MANUELA MARTINEZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A escritora Zélia Gattai, 91, morreu ontem, às 16h30, no Hospital da Bahia, em Salvador, em razão de uma parada cardiorrespiratória. No final da noite de anteontem, seu estado de saúde se agravou, apresentando um quadro clínico de choque circulatório irreversível, segundo os médicos. Às 22h de sexta, foi sedada e passou a respirar por meio de aparelhos.
A autora será velada hoje no Cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas. Logo após o anúncio da morte de Zélia, o filho dela, o empresário João Jorge Amado, disse que o corpo será cremado. As cinzas serão jogadas numa mangueira localizada na casa do Rio Vermelho -no mesmo local foram depositadas as cinzas de Jorge Amado. A cremação vai ocorrer no mesmo cemitério.
Viúva de Jorge Amado (1912-2001), foi internada no dia 31 de março, após ser levada por familiares para o Hospital Aliança com dores abdominais.
No dia 17 de abril, foi transferida para o Hospital da Bahia, onde foi submetida a uma cirurgia de desobstrução de um trecho do intestino delgado. Durante a cirurgia, os médicos encontraram um tumor benigno, de 15 cm, que foi retirado.
Menos de duas semanas depois, passou por uma traqueostomia -abertura de um orifício no pescoço para colocação de tubos responsáveis pela respiração artificial. Na última quinta, seus rins passaram a funcionar com dificuldade, o que provocou um quadro de choque.
No ano da morte de Jorge Amado (2001), com quem conviveu por mais de cinco décadas, Zélia foi eleita para a Academia Brasileira de Letras e passou a ocupar a mesma cadeira do autor de "Gabriela, Cravo e Canela". A cadeira, cujo patrono é José de Alencar, teve no escritor Machado de Assis o seu primeiro ocupante.
Na manhã de ontem, os médicos Jadelson Andrade, Jorge Pereira e Izio Kowes informaram que o estado de saúde dela era "extremamente grave".
Muito abatido, João Jorge Amado disse que a família estava lutando muito para dar dignidade "aos últimos momentos de vida" da escritora. "Minha mãe foi um exemplo de vida. Nós estamos abalados e tristes, mas pelo menos ela não está sofrendo", afirmou na ocasião.
Ainda pela manhã, o cardiologista Jadelson Andrade, que atendeu a família Amado nos últimos 20 anos, disse que ela tinha pouco tempo de vida.
Desde a última quinta, quando o estado de saúde da escritora se complicou, foi transferida para um quarto isolado. Poucos minutos antes de morrer, foi visitada pelos filhos, João Jorge e Paloma, netos e sobrinhos.

Histórico
Nos últimos anos, as internações passaram a ser rotina para Zélia Gattai. Em outubro de 2006, ela foi internada por dez dias com insuficiência cardíaca e edema agudo pulmonar.
Em janeiro de 2007, foi novamente internada, após sofrer uma queda em seu apartamento. Em fevereiro desse ano, ficou oito dias no hospital, devido a uma embolia pulmonar.
Em junho, duas internações: a primeira, por causa de uma inflamação do nervo intercostal, e a segunda, por hemorragia no aparelho digestivo. Em agosto de 2007, mais uma internação por hemorragia.
Em outubro, passou por uma cirurgia que implantou um cateter no pulmão, para evitar o surgimento de coágulos. Nos três primeiros meses deste ano, foram três internações.
O governo da Bahia decretou luto oficial de três dias pela morte da escritora.


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