São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2010

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Mostra expõe influência de Bernardet

CCBB paulistano reúne, a partir de amanhã, clássicos nacionais e produção que mistura documentário e ficção

Programação, que também tem títulos recentes, inclui filmes de Eduardo Coutinho, Paulo Gil Soares e um dos últimos de Glauber Rocha


JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Raros são os críticos que exercem uma influência tão decisiva sobre a produção cinematográfica que analisam quanto o francês (radicado no Brasil há meio século) Jean-Claude Bernardet.
Prova disso é a mostra "Cineastas e Imagens do Povo", que começa amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo.
O evento tem o mesmo nome de um livro crucial sobre o documentário brasileiro que Bernardet publicou em 1985 e relançou em 2003 pela Companhia das Letras.
Entre os títulos, estão clássicos absolutos abordados pelo crítico, como "Cabra Marcado para Morrer" (1964/84), de Eduardo Coutinho, e "Memórias do Cangaço" (1965), de Paulo Gil Soares.
Também estão na programação obras mais recentes, influenciadas por suas análises, como "À Margem da Imagem" (2002), de Evaldo Mocarzel.
Ao lado de filmes bastante reprisados, como "Iracema - Uma Transa Amazônica" (1974), de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, há preciosidades pouco vistas como "Isto É Noel Rosa" (1991), de Rogério Sganzerla.
Detacam-se também nesta categoria "Chapeleiros" (1983), de Adrian Cooper, "O Porto de Santos" (1979), de Aloysio Raulino, e "Jorjamado no Cinema" (1979), um dos últimos trabalhos de Glauber Rocha.
Às vezes, o diálogo entre filmes, mediado pela ação crítica de Bernardet, é evidente. É o caso de "O Prisioneiro da Grade de Ferro" (2004).
Ao entregar uma câmera a presos do Carandiru, Paulo Sacramento retoma uma experiência realizada três décadas antes por Aloysio Raulino com um lavador de carros em "Jardim Nova Bahia" (1971).
Do mesmo modo, em "Peões" (2004), dirigido por Eduardo Coutinho, ex-sindicalistas se veem na tela em outros filmes como "Greve" (1979), de João Batista de Andrade, e "Linha de Montagem" (1981), de Renato Tapajós.
Coutinho, o mais importante documentarista do país, declarou inúmeras vezes que o pensamento crítico de Bernardet teve grande influência em seu trabalho.
Uma das vertentes mais interessantes contempladas na mostra é a dos filmes híbridos entre documentário e ficção.
Esse é o caso "Iracema" e também de "O Homem que Virou Suco" (1979), de João Batista de Andrade, e "Uma Avenida Chamada Brasil" (1988), de Otávio Bezerra.
O documentário-colagem "São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" (1994) traz uma rara incursão na direção do crítico que atua com certa frequência como roteirista ("O Caso dos Irmãos Naves", "Através da Janela") e mais raramente como ator ("Filmefobia").
Debates com cineastas e críticos e aulas complementam a programação no CCBB.


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