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Mostra expõe influência de Bernardet
CCBB paulistano reúne, a partir de amanhã, clássicos nacionais e produção que mistura documentário e ficção
Programação, que também tem títulos recentes, inclui filmes de Eduardo Coutinho, Paulo Gil Soares e um dos últimos de Glauber Rocha
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Raros são os críticos que
exercem uma influência tão decisiva sobre a produção cinematográfica que analisam
quanto o francês (radicado no
Brasil há meio século) Jean-Claude Bernardet.
Prova disso é a mostra "Cineastas e Imagens do Povo",
que começa amanhã no Centro
Cultural Banco do Brasil de São
Paulo.
O evento tem o mesmo nome
de um livro crucial sobre o documentário brasileiro que Bernardet publicou em 1985 e relançou em 2003 pela Companhia das Letras.
Entre os títulos, estão clássicos absolutos abordados pelo
crítico, como "Cabra Marcado
para Morrer" (1964/84), de
Eduardo Coutinho, e "Memórias do Cangaço" (1965), de
Paulo Gil Soares.
Também estão na programação obras mais recentes, influenciadas por suas análises,
como "À Margem da Imagem"
(2002), de Evaldo Mocarzel.
Ao lado de filmes bastante reprisados, como "Iracema - Uma
Transa Amazônica" (1974), de
Jorge Bodanzky e Orlando Senna, há preciosidades pouco vistas como "Isto É Noel Rosa"
(1991), de Rogério Sganzerla.
Detacam-se também nesta
categoria "Chapeleiros" (1983),
de Adrian Cooper, "O Porto de
Santos" (1979), de Aloysio Raulino, e "Jorjamado no Cinema"
(1979), um dos últimos trabalhos de Glauber Rocha.
Às vezes, o diálogo entre filmes, mediado pela ação crítica
de Bernardet, é evidente. É o
caso de "O Prisioneiro da Grade
de Ferro" (2004).
Ao entregar uma câmera a
presos do Carandiru, Paulo Sacramento retoma uma experiência realizada três décadas
antes por Aloysio Raulino com
um lavador de carros em "Jardim Nova Bahia" (1971).
Do mesmo modo, em
"Peões" (2004), dirigido por
Eduardo Coutinho, ex-sindicalistas se veem na tela em outros
filmes como "Greve" (1979), de
João Batista de Andrade, e "Linha de Montagem" (1981), de
Renato Tapajós.
Coutinho, o mais importante
documentarista do país, declarou inúmeras vezes que o pensamento crítico de Bernardet
teve grande influência em seu
trabalho.
Uma das vertentes mais interessantes contempladas na
mostra é a dos filmes híbridos
entre documentário e ficção.
Esse é o caso "Iracema" e
também de "O Homem que Virou Suco" (1979), de João Batista de Andrade, e "Uma Avenida
Chamada Brasil" (1988), de
Otávio Bezerra.
O documentário-colagem
"São Paulo, Sinfonia e Cacofonia" (1994) traz uma rara incursão na direção do crítico que
atua com certa frequência como roteirista ("O Caso dos Irmãos Naves", "Através da Janela") e mais raramente como
ator ("Filmefobia").
Debates com cineastas e críticos e aulas complementam a
programação no CCBB.
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