São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2011

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Anelis estreia em CD "produzido" por seu pai, Itamar Assumpção

Trabalho foi bancado com dinheiro dos direitos do relançamento da obra do compositor paulista

Restante do orçamento do álbum foi levantado em esquema de venda de cotas prévias de CDs, LPs e ingressos de show

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Pouco antes de morrer, Itamar Assumpção fez um acordo com a filha mais velha, Anelis. Ele produziria o primeiro álbum dela. Mas, antes, ela o ajudaria a reeditar toda a sua obra fonográfica, gravada desde 1980.
Itamar se foi em 2003. Sua "Caixa Preta" foi lançada no ano passado, embalando todos os dez trabalhos que produziu em vida e mais dois totalmente inéditos -tudo sob direção de Anelis.
E a estreia da filha acontece agora, com o álbum "Sou Suspeita. Estou Sujeita. Não Sou Santa.", que deve chegar às lojas em duas semanas. E que, conforme prometeu, Itamar ajudou a produzir.
Não há nada de místico ou esotérico nessa frase.
Anelis conta que foi justamente com o dinheiro recebido pela comercialização da "Caixa Preta" que as gravações de seu trabalho foram bancadas. O investimento, no final das contas, foi de Itamar. Mas não só isso.
Artisticamente, a personalidade do pai dirigiu, em boa medida, os passos que a filha daria. Isso porque foi durante a produção do póstumo "Pretobrás 2 - Maldito Vírgula" que o "Sou Suspeita..." da filha amadureceu.
Anelis acompanhou de perto a transformação das gravações caseiras deixadas por Itamar em música finalizada, sob as mãos do produtor Beto Villares. E redirecionou o próprio trabalho depois da experiência.
"Cara, essas coisas são muito loucas", diz Anelis. "Não consegui terminar nada meu enquanto não concluí a "Caixa Preta". Tinha horas que eu ficava até angustiada, "por que ele foi fazer isso comigo?". Só depois fui entender o que estava acontecendo nesse processo."

COTAS PRÉVIAS
O restante do dinheiro Anelis levantou em esquema de venda de cotas prévias.
Funciona assim: antes de ter o produto pronto, o artista vende pacotes de CDs, LPs (o álbum também sairá em vinil), camisetas e até convites para o show de estreia.
"Isso acontece bastante lá fora, mas aqui os artistas ainda se sentem humilhados, como se estivessem pedindo esmolas", diz. "Isso é uma bobagem. Não é um favor, é um investimento no artista."
Anelis conta que chegou a inscrever seu trabalho em editais para conseguir a verba de finalização. Não foi aprovada em nenhum deles.
"Percebi que estava concorrendo com meus amigos. E torcendo contra eles. É uma parada desumana em que todo mundo acaba caindo", diz. "A moeda só mudou de dono. Antes, quem mandava no que seria ou não lançado eram as gravadoras. Agora, é a Natura, a Petrobras."

SOBRENOME
Anelis retirou o sobrenome Assumpção da capa do álbum, mas afirma que isso não significa uma ruptura familiar. É a voz e o violão do pai que abrem o trabalho.
"Ser filha não é fácil, e eu tive que entender quem eu sou, quem meu pai era, quem é hoje", diz. "E ele tinha que estar comigo no disco. E não era no meio, nem no final. Tinha que abrir pra mim. Agora os acordos que fizemos, eu com ele e ele comigo, estão cumpridos."
Na infância, Anelis costumava acompanhar o pai em shows pelos mais variados palcos da cidade. Moravam na Penha, zona leste. Ia com ele à tarde, de metrô, para assistir à passagem de som.
Ficava por ali até a noite, assistia ao espetáculo da coxia, dormia sobre casacos em algum canto improvisado do camarim. Muitas vezes, tinham que esperar o dia amanhecer para que o metrô abrisse de novo e pudessem voltar para casa.
Foi assim, sem abrir nenhuma concessão artística, que Itamar Assumpção construiu sua monumental obra e sua pequena fama comercial.
Tanto obra como fama parecem só agora estar ganhando nova dimensão e maior reconhecimento. Anelis -a filha, a produtora e sobretudo a artista que agora, finalmente, se apresenta ao mundo- tem muito a ver com isso.


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