São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2011

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Mais latina, Flip terá neste ano sua edição menos anglófona

Pela primeira vez, autores de outras línguas estrangeiras superam os que escrevem em inglês

Mudança na Festa de Paraty, que ocorre em julho e cujo programa completo sai amanhã, reflete perfil de curador

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

A lista de convidados de língua estrangeira da primeira Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), em 2003, denunciava uma celebração anglófona.
Os britânicos Eric Hobsbawm, Julian Barnes e Hanif Kureishi e os americanos Don DeLillo e Daniel Mason foram então as atrações internacionais em Paraty.
Nos anos seguintes, o inglês não seria o único idioma estrangeiro da festa -idealizada, aliás, pela editora inglesa Liz Calder-, mas nunca perderia o trono, sendo sempre a língua de ao menos metade dos não lusófonos.
Neste ano será diferente. Na nona edição do encontro, que ocorre de 6 a 10 de julho e cuja programação completa será divulgada amanhã, pela primeira vez o total de estrangeiros de outras línguas vai superar o de autores que escrevem em inglês.
Até agora são 19 convidados de outros idiomas (14 anunciados oficialmente), dos quais só 7 anglófonos, ou 36,8% do total.
Do lado latino, estão seis autores de língua espanhola, quatro de língua francesa e um italiano. Há ainda um húngaro. E um português, que não entra na conta.
A Flip ainda negocia com mais de um autor um substituto para a mesa que seria do francês Michel Houellebecq (não vem mais). Se ele for de língua inglesa, os anglófonos serão 40%; do contrário, serão 35%. De todo modo, o menor índice histórico.
A guinada deve ser creditada especialmente ao novo curador da festa, o crítico literário e colunista da Folha Manuel da Costa Pinto, que sucede a Flávio Moura.
Costa Pinto não esconde que a mudança é pensada e reflete sua formação.
Questionado se seu repertório não seria mais de literatura e cultura latinas, Costa Pinto respondeu: "Completamente. Meu trabalho acadêmico é com a obra do [franco-argelino Albert] Camus, tenho ligação forte com literatura italiana e francesa, falo italiano e francês -e não sou muito fluente em inglês. Embora ache que o maior escritor vivo seja o [sul-africano J.M.] Coetzee".
Ele acrescenta: "Os autores que têm maior significado pessoal na minha curadoria são [o francês Claude] Lanzmann e o [italiano] Antonio Tabucchi".
Na coleção "Ilha Deserta", da Publifolha, para a qual literatos listaram dez obras que levariam para a experiência insular, Costa Pinto não relacionou nenhum autor de língua inglesa.
Não significa que Liz Calder tenha deixado de montar a programação da Flip com a curadoria. Foram dela, por exemplo, as indicações dos britânicos Carol Ann Duffy e Caryl Phillips (este nascido em São Cristóvão) e da paquistanesa Kamila Shamsie.


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