INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Duas reprises para ninguém que gosta de cinema recusar: "Videodrome - A Síndrome do Vídeo" (TNT, 0h30), de David Cronenberg, e "Hardcore - No Submundo do Vício" (Cinemax, 13h15), de Paul Schrader.
"Videodrome" é possivelmente o filme mais original feito dos anos 80 para cá, tendo como centro um técnico que começa a receber em seu receptor imagens de natureza desconhecida (bem, somos todos desconhecidos de nós mesmos -que fazer?).
"Hardcore" é sobre um pai que busca, no submundo da indústria pornô, sua filha. Não seria estranho, não tivesse a garota saído de uma excursão da sua igreja, e não fosse o pai um homem religioso. Viagens insólitas, representativas de como era vivo o cinema na virada dos anos 70/80.

DOCUMENTÁRIO

Série funciona como iniciação à arte

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Já é mais do que clichê afirmar que a arte contemporânea é de difícil acesso ao público leigo. Num país carente de publicações e programas de televisão que busquem aproximar o leitor/telespectador da produção atual em artes plásticas, não deixa de ser uma boa oportunidade de iniciação, portanto, a série "Todo o Passado Dentro do Presente", que a TV Cultura passa a transmitir a partir de hoje, por sete sextas-feiras.
Didática, a série busca apresentar como a produção atual ocorre por conta de trincheiras abertas por artistas modernos e, especialmente, por novas técnicas, como a fotografia.
O enfoque é em movimentos ocorridos entre 1950 e 2000, a partir de depoimentos de artistas -nem sempre os melhores momentos do programa, dado o caráter auto-elogiativo, em alguns casos, e altamente vagos, em outros, que muitas vezes permeiam tais falas. Numa delas, por exemplo, afirma-se que a arte no Brasil teve início com a missão artista francesa, em 1816, ignorando-se todo o período barroco no país, hoje visto como dos momentos mais significativos da produção nacional.
Entretanto, vistos no conjunto, os programas, dirigidos por Sérgio Zeigler, de fato ajudam não-iniciados a compreenderem a multiplicidade da arte contemporânea em suas características mais marcantes, como a performance, o vídeo e a instalação, jargões correntes, mas nem sempre populares. Um dos pontos altos da série é o programa sobre os anos 70 e 80, o quinto no conjunto, sobre arte conceitual e a resposta da pintura, com depoimentos de Regina Silveira e Leda Catunda.
Acompanha a série o lançamento do livro "Arte no Brasil, 1950 -2000, Movimentos e Meios" (Alameda, 94 págs.), de Cacilda Teixeira da Costa, que, com Zeigler, escreveu também a série. A publicação, um pequeno dicionário, reúne 24 verbetes usados para a elaboração dos programas e que, pela carência de obras similares, ganhou vida autônoma.