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"MOTOBOYS - VIDA LOCA"
Documentário retrata os "burakumins" brasileiros
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
No Japão, existe uma classe
não-declarada de párias, os
"burakumins", cuja origem remonta ao século 16 (eram os trabalhadores que lidavam com animais mortos e que preparavam os
cadáveres para os funerais), mas
que são desprezados ainda hoje.
Ou seja, o início do preconceito
tem a ver com o paradoxo do trabalho realizado, a um só tempo
necessário e criticado.
Algo semelhante ocorre no Brasil, especialmente em São Paulo,
em relação aos motoboys. A madame que xinga o rapaz da Titan
125 que passa buzinando ao lado
de seu carro importado é a mesma cuja marido contratou os serviços do motoqueiro para uma
entrega urgente de sua empresa.
Esse é mais ou menos o tema do
bem-intencionado "Motoboys
-°Vida Loca", documentário de
Caíto Ortiz que estréia hoje. Em
pouco menos de uma hora, com
uma estética "suja", reforçada pela captação digital e a câmera na
mão, o diretor prova seu ponto.
Ortiz entremeia com talento alguns fios condutores -o garotão
desencanado, o pai de família, a
motogirl que teve um filho morto- com depoimentos de personalidades - o especialista em
trânsito Roberto Scaringella, Serginho Groisman, entre outros.
O resultado é um painel representativo tanto da vida deles
quanto da percepção que a sociedade tem desses profissionais que
andam literalmente nas brechas
do trânsito e da legislação.
De acordo com as estimativas,
há hoje entre 170 mil e 350 mil
motoboys na capital paulista; destes, morrem em acidentes automobilísticos três a cada dois dias,
segundo os números oficiais, ou
dois a cada dia, segundo os autores do documentário, que computam não só as mortes no local.
Seja qual for o correto, a média é
iraquiana, e pouco se faz para que
seja mudada. Vêm daí os dois
momentos mais fortes de "Motoboys". O primeiro é a história
pungente da tal motogirl, que
adota a profissão do filho morto
para superar a dor -inutilmente.
A outra é a hora "Michael Moore", em que no melhor estilo do
polêmico documentarista os autores encurralam Marta Suplicy
numa cerimônia depois de pedir
que ela os recebesse por três meses. Inutilmente, também.
Motoboys - Vida Loca
Produção: Brasil, 2002
Quando: a partir de hoje no Espaço
Unibanco
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