CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

"O que você não gosta em você?" A pergunta dos doutores McNamara e Troy que abre cada episódio da série "Nip/ Tuck" ganha ainda mais significados nesta segunda temporada que está sendo lançada em DVD no Brasil. Quando estreou, em 2003, a série criada por Ryan Murphy foi recebida com relativo desdém, como se se resumisse a uma contraposição entre um modo de vida amoral e hedonista, do irresistível cafajeste Christian, e um modelo ético, mas boboca e ultrapassado, do certinho Sean. O que torna "Nip/Tuck" mais que uma (boa) fábula moral é justamente a pergunta que abre cada episódio. Ela é feita pelos protagonistas para que os pacientes digam o que gostariam de alterar, artificialmente, por meio da cirurgia plástica. Mas o que ela revela mesmo, ainda mais nesta segunda temporada, é que existem camadas mais profundas, e estas é que são expostas pelo bisturi das histórias dos 16 episódios da caixa. Como em outros seriados médicos, a doença (ou, aqui, o defeito) funciona como contraponto àquilo que se considera saúde (ou perfeição). No trato diário com seus pacientes e em seus dilemas pessoais, esses cirurgiões de Miami expõem o quanto há de patológico na idealização da saúde (aqui encarnada na mania da beleza). Nesse sentido, não há seriado mais contemporâneo que "Nip/Tuck", pois nele desfilam a obsessão mais presente de todas as obsessões: aquela com o corpo, a forma física, a imagem e o culto da perfeição. Como define sua produtora, "a tragédia vestida de Gucci". Nesta temporada, apesar de um tanto de redundância nas querelas familiares, a série aprofunda a ambigüidade de seu par central, substituindo o maniqueísmo da primeira fase por uma humanização. E põe em cena, com a força antes ausente do suspense, uma antítese de Sean e Christian na figura de um serial-killer-artista, aquele cuja obra-prima é a destruição da beleza. Nos extras, estão ainda cenas inéditas e um especial sobre três mulheres em torno de Christian.

NIP/TUCK (2ª temporada)    
Distribuição: Warner
Quanto: R$ 120, em média