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LITERATURA
Para criar "Saraminda", Sarney visitou região do Amapá que no século passado foi uma república autônoma
História de garimpo inspirou romance
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Eu tinha uma boa história na
mão. O ouro está associado à riqueza, que gera poder. É uma história sobre solidão e sujeitos lutando contra o desconhecido. Numa guerra, amigos tornam-se inimigos", conta Sarney, em entrevista feita por telefone, de Brasília,
enquanto recebia cinco vereadores de seu Estado.
"Saraminda" é um romance
histórico, com pitadas de realismo fantástico. Se, em "O Dono do
Mar", piocos, entes fantásticos
que vivem no mar, invadem as aldeias de pescadores para possuírem as mocinhas, em "Saraminda", o narrador, o francês Clément Tamba, recebe a visita de
um amigo morto, o brasileiro Cleto Bonfim, e presta contas com o
passado.
Tamba morava em Caiena,
quando o amigo Firmino Amapá,
em busca de um sócio, deu-lhe a
notícia de que as terras do Mapá,
território sem dono, entre o Brasil
e a colônia francesa, tinham ouro
em pó e eram quase sem gente.
"Os poucos que ali moravam
morriam de escorbuto, malária e
doenças da vida, engalicados", informou Firmino.
Na floresta, Tamba conhece
Bonfim, dono do primeiro garimpo e de Saraminda. Ambos disputam o ouro e o amor de Saraminda. "O dúbio me fascina. Eu não
pude interferir, nem ir contra as
vontades de Saraminda. Ela tinha
todas as seduções, mas se entregou a poucos. Ela era uma mulher
de sua época. Aconteceu na minha cabeça", diz Sarney.
A região foi palco de uma luta
entre franceses de Guiana e brasileiros, terra hoje pertencente ao
Amapá. Garimpeiros chegaram a
fundar uma república autônoma,
a República do Cunani, que teve
presidente, representação na
França, moeda, selos, bandeira e
quase foi reconhecida pelo governo norte-americano, em 1876.
"Fui duas vezes ao garimpo. O
Cunani, hoje, é apenas uma igrejinha, com três casas. Foi o ouro
que despertou os franceses, que
haviam deixado na Guiana apenas um presídio", conta Sarney.
O Brasil virou dono definitivo
da região, terra de onde poucos
voltavam, em que "as doenças, a
selva, as lutas com os índios e o
isolamento dizimavam grupos",
numa questão arbitrada pela Suíça, que reconheceu o direito brasileiro baseando-se no Tratado de
Utrecht.
(MARCELO RUBENS PAIVA)
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