São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


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MÚSICA
Quatro adolescentes se suicidaram depois da morte de Rodrigo Bueno
Ídolo do pop argentino é "santificado" por seus fãs


GUSTAVO CHACRA
DE BUENOS AIRES

Morto em um acidente de carro em 24 de junho passado, aos 27 anos, o cantor argentino Rodrigo Bueno está sendo "santificado" pelos seus fãs.
No local do acidente, em estrada que liga Buenos Aires a La Plata, foi construído um santuário, ao qual adolescentes, seu público-alvo, levam velas diariamente.
O fanatismo por Bueno chegou ao extremo quando, no mês passado, quatro meninas se suicidaram após a sua morte.
Rodrigo virou até "anjo". "Santinhos" têm sido vendidos nas bancas, a cinco pesos (US$ 5), junto com uma "biografia não-autorizada de Rodrigo".
"O santinho que vai mudar sua vida", como promete a propaganda, traz a "Oração ao Anjo Rodrigo", que pede que a alma do cantor ajude a levar felicidade aos desamparados.
As estampas trazem a foto do cantor e a legenda "Deus escolhe almas santas para santificar o céu". Uma frase, atribuída à mãe do cantor, recomenda, na capa da revista: "Peçam o que queiram e Rodrigo o concederá".
A "santificação de Rodrigo" já está sendo comparada à da ex-primeira-dama Evita Perón e à do cantor de tango Carlos Gardel pela imprensa argentina.
Mas Bueno nunca foi conhecido internacionalmente, como Gardel, cujos tangos são tocados em todo o mundo até hoje, e como Evita, uma das mulheres mais carismáticas da história do país. Bueno era famoso apenas na Argentina, e mesmo no país o seu sucesso é recente -durante 13 anos ficou restrito a sua cidade natal, Córdoba.
O "fenômeno Rodrigo", como é chamada a rápida ascensão do cantor, começou em janeiro. Com a canção "Soy Cordobês", Bueno conseguiu se tornar o cantor mais ouvido em todo o país.
Seus shows lotavam o Luna Park, principal casa de shows em Buenos Aires, e sua presença era constante em programas de TV. O novo ídolo pop era capa de revistas de comportamento praticamente toda semana.
A "Notícias", principal revista semanal da Argentina, tentou explicar o fenômeno. Sua conclusão foi que a mídia estava por trás do sucesso repentino e que, em pouco tempo, Bueno cairia no esquecimento -o que realmente estava acontecendo nas semanas anteriores a sua morte.
A imprensa voltou a falar do cantor somente apenas após o acidente, quando começou a se perguntar se o cantor teria sido somente um modismo -o fanatismo demonstrava o contrário.
Cerca de 500 mil CDs foram vendidos, dando um faturamento de US$ 5 milhões para a sua gravadora.
Maradona, um de seus maiores fãs, fez questão de vir à Argentina para o enterro de Bueno. E, antes de voltar para Cuba, disse que, após a morte de Bueno, a sua imagem da Argentina passou a ser a de um país triste. Agora a imprensa do país quer saber até quando durará o fenômeno do "santo Rodrigo".


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