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Exibição brasileira reforça ruptura freudiana
DA REPORTAGEM LOCAL
Na estrutura, o divã de Freud é
um móvel simples, mas sempre
recoberto por um requintado tapete iraniano que praticamente
esconde a sua forma original.
É também um móvel pequeno,
com cerca de um metro e meio de
comprimento, de modo que os
pacientes não estendiam seu corpo como em uma cama, mas apenas se recostavam. Numa de suas
extremidades, há uma almofada
na forma de rolo, recheada de pêlos de cavalo.
Foi um presente dado a Freud
por madame Benvenisti, sua paciente, em 1890. Ele ainda não tinha escrito "A Interpretação dos
Sonhos", obra que está comemorando um século neste ano.
Quando deixou Viena em 1938,
fugindo do nazismo, Freud levou
consigo o móvel, que é hoje a
principal atração do museu que
leva seu nome, em Londres.
No Museu de Arte de São Paulo,
o divã ocupará o mesmo lugar de
honra da exibição americana de
"Freud: Conflito & Cultura". Mas
o visitante terá muito o que ver
antes de chegar até ele.
A exposição original é dividida
em três partes: "Os Anos de Formação", "O Indivíduo: Terapia e
Teoria" e "Do Indivíduo à Sociedade". Aqui, ganhará uma mostra
brasileira, cujo título provisório é
"Psicanálise e Modernismo".
A primeira parte abre com a
certidão de nascimento de Freud
-que nasceu em 1856, em Freiberg (então parte do Império
Austro-Húngaro e hoje na República Tcheca, com o nome de Pribor). Traz também manuscritos
dos primeiros ensaios, inclusive o
famoso estudo sobre a cocaína.
Na segunda parte, os destaques
são as traduções de Freud das aulas de Charcot, cartas ao amigo W.
Fliess, a primeira edição de "A Interpretação dos Sonhos" e os manuscritos de "Cinco Lições de Psicanálise" (1910) e "Para Além do
Princípio do Prazer" (1920).
No terceiro módulo, devem
chamar a atenção os manuscritos
de "Totem e Tabu" (1912), "O Futuro de Uma Ilusão" (1927) e
"Moisés e o Monoteísmo" (1939).
Todos os objetos serão exibidos
em vitrines de madeira e vidro.
Monitores de TV espalhados pela
mostra apresentarão imagens que
testemunham a influência da psicanálise em produtos da cultura
de massas, como revistas, filmes e
desenhos animados.
Os filmes domésticos que registram a imagem de Freud serão
projetados no cinema do museu.
Um festival de filmes que abordam temas relacionados à psicanálise está sendo preparado com
a Cinemateca Brasileira.
O objetivo do módulo brasileiro, segundo Leopold Nosek, é
mostrar o aspecto crítico e de ruptura do pensamento freudiano,
bem como diálogo que ele estabelece com as artes e a cultura, no
caso o modernismo.
"Ela tem um cunho didático,
crítico e militante, ao voltar-se para a brasilidade, para o próprio
meio e os psicanalistas brasileiros", diz Nosek.
A parte brasileira reunirá obras
de quatro artistas plásticos -Tarsila do Amaral, Cícero Dias, Ismael Nery e Flávio de Carvalho-
com poemas e textos de Mario de
Andrade, Oswald de Andrade e
Carlos Drummond de Andrade
que aludem à psicanálise.
"A exposição americana é linear, hipótese, tese e demonstração. Vamos seguir a forma original. A exposição brasileira, no entanto, sem abandonar as teses, terá o modelo de uma constelação",
explica o crítico e diretor de cinema Olívio Tavares de Araújo, um
dos curadores da exposição.
Ao mesmo tempo em que investiga as relações dos modernistas com a psicanálise, a mostra introduzirá o público na história do
movimento no Brasil.
Vai apresentar o trabalho de
pioneiros como Durval Marcondes (1899-1981) e Adelheid Koch
(1896-1980), psicanalista alemã
enviada ao país nos anos 30, pela
Associação Psicanalítica Internacional, para ajudar na formação
de terapeutas.
As pesquisas para a exibição
brasileira, realizadas por uma
equipe que já trabalha há quase
um ano, basearam-se no livro
"Álbum de Família: Imagens,
Fontes e Idéias da Psicanálise em
São Paulo", obra coletiva coordenada por Leopold Nosek, de 1994.
"As idéias da psicanálise chegaram ao Brasil por uma via científica e também por uma via artística", diz a psicanalista Maria Angela Gomes Moretzsohn, também
curadora da mostra. "A exibição
brasileira abre o campo para muitas pesquisas futuras."
Para quem tem pressa, a versão
digital da exposição da Biblioteca
do Congresso está no site: http://lcweb.loc.gov/exhibits/freud.
O site reproduz a maior parte do
material exposto, inclusive os depoimentos gravados por Freud
para a BBC de Londres.
(ALN)
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