São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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Masp destaca inovações renascentistas em mostra

"Virtude e Aparência" é terceira exposição na reorganização do acervo do museu

Exposição exibe telas de mestres como Rafael, Bosch, Botticelli, Tintoretto e Fragonard, entre outros, do século 13 ao 20


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

A sabedoria é de uma elegância sublime e não economiza nas roupas. Ela é Ônfale, cheia de graça, ao lado de um Hércules desajeitado, a força bruta personificada, numa alegoria de François Boucher, de 1750. Que a peça central da exposição que o Masp abre hoje seja uma cópia de um quadro de Veronese, original de 1576, já ajuda a entender a idéia por trás de "Virtude e Aparência". São 38 obras -de Rafael, Botticelli, Perugino, Tintoretto, El Greco, Bosch e Fragonard- que prenunciam a era moderna, exacerbando a passagem, na arte ocidental, do metafísico ao mundano. Da Renascença ao período romântico, artistas trocaram a experiência religiosa, com temas e ícones que remetem a algo além do quadro, pela aparência simples das coisas, o desbunde sensorial de laçarotes, fitas, texturas e pêlos. A tela de Boucher tensiona esses dois eixos: por um lado, a riqueza nos detalhes das roupas de Ônfale, por outro, a mensagem moralizante -ela pisa sobre um globo terrestre e instrumentos de guerra, mostrando que a sabedoria consegue vencer a força bruta. Mas além da cópia, esta terceira exposição do acervo do museu, na reorganização por temas, e não mais cronológica, proposta pelo curador Teixeira Coelho, reúne o melhor da coleção renascentista do Masp. "A grande modernidade começou aqui", resume Coelho, apontando para quadros de Rafael e Botticelli. "Depois disso, a arte fica mais ou menos assim até o começo do século 20." É possível acompanhar a evolução do traço mesmo dentro do período renascentista. "A Ressurreição de Cristo" (1499), de Rafael, aposta na perspectiva rígida, nas proporções clássicas e num ritmo preciso: parece haver uma coreografia de guardas, que se afastam, e anjos, que se aproximam da figura de Jesus, no centro. Botticelli, mesmo dez anos antes, já mostrava um arredondamento das figuras e maior liberdade em relação às proporções em "Virgem com o Menino e São João Batista Criança". Liberdade maior ainda só chega depois que, além de incorporar o espaço exterior, quando passaram a pintar janelas em seus quadros -um bom exemplo é "São Sebastião na Coluna" (1500), de Perugino-, artistas assumiram todo o drama e ação da existência. Enquanto Tintoretto, em Veneza, rompia com a simetria num eixo diagonal, não mais vertical, e mudava o foco de luz, que podia incidir de forma indireta sobre as figuras, El Greco, na Espanha, criava uma claridade interna para as obras, outra face do jogo de luz e sombra, que marcou o barroco. Fecham o recorte as cenas domésticas de Jean-Honoré Fragonard, com os cachorrinhos felpudos de "A Educação Faz Tudo" (1775) e a mulher de vestido branco e laço azul brilhante de Vestier, muito mais aparência do que virtude.

VIRTUDE E APARÊNCIA
Quando: de ter. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 0/xx/11/3251-5644; livre)
Quanto: R$ 15; grátis às terças



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