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Masp destaca inovações renascentistas em mostra
"Virtude e Aparência" é terceira exposição na reorganização do acervo do museu
Exposição exibe telas de mestres como Rafael, Bosch, Botticelli, Tintoretto e Fragonard, entre outros,
do século 13 ao 20
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
A sabedoria é de uma elegância sublime e não economiza
nas roupas. Ela é Ônfale, cheia
de graça, ao lado de um Hércules desajeitado, a força bruta
personificada, numa alegoria
de François Boucher, de 1750.
Que a peça central da exposição que o Masp abre hoje seja
uma cópia de um quadro de Veronese, original de 1576, já ajuda a entender a idéia por trás de
"Virtude e Aparência".
São 38 obras -de Rafael, Botticelli, Perugino, Tintoretto, El
Greco, Bosch e Fragonard-
que prenunciam a era moderna, exacerbando a passagem, na
arte ocidental, do metafísico ao
mundano. Da Renascença ao
período romântico, artistas
trocaram a experiência religiosa, com temas e ícones que remetem a algo além do quadro,
pela aparência simples das coisas, o desbunde sensorial de laçarotes, fitas, texturas e pêlos.
A tela de Boucher tensiona
esses dois eixos: por um lado, a
riqueza nos detalhes das roupas de Ônfale, por outro, a
mensagem moralizante -ela
pisa sobre um globo terrestre e
instrumentos de guerra, mostrando que a sabedoria consegue vencer a força bruta. Mas
além da cópia, esta terceira exposição do acervo do museu, na
reorganização por temas, e não
mais cronológica, proposta pelo curador Teixeira Coelho,
reúne o melhor da coleção renascentista do Masp.
"A grande modernidade começou aqui", resume Coelho,
apontando para quadros de Rafael e Botticelli. "Depois disso, a
arte fica mais ou menos assim
até o começo do século 20."
É possível acompanhar a
evolução do traço mesmo dentro do período renascentista.
"A Ressurreição de Cristo"
(1499), de Rafael, aposta na
perspectiva rígida, nas proporções clássicas e num ritmo preciso: parece haver uma coreografia de guardas, que se afastam, e anjos, que se aproximam
da figura de Jesus, no centro.
Botticelli, mesmo dez anos
antes, já mostrava um arredondamento das figuras e maior liberdade em relação às proporções em "Virgem com o Menino e São João Batista Criança".
Liberdade maior ainda só
chega depois que, além de incorporar o espaço exterior,
quando passaram a pintar janelas em seus quadros -um bom
exemplo é "São Sebastião na
Coluna" (1500), de Perugino-,
artistas assumiram todo o drama e ação da existência.
Enquanto Tintoretto, em Veneza, rompia com a simetria
num eixo diagonal, não mais
vertical, e mudava o foco de luz,
que podia incidir de forma indireta sobre as figuras, El Greco,
na Espanha, criava uma claridade interna para as obras, outra face do jogo de luz e sombra,
que marcou o barroco.
Fecham o recorte as cenas
domésticas de Jean-Honoré
Fragonard, com os cachorrinhos felpudos de "A Educação
Faz Tudo" (1775) e a mulher de
vestido branco e laço azul brilhante de Vestier, muito mais
aparência do que virtude.
VIRTUDE E APARÊNCIA
Quando: de ter. a dom., das 11h às
18h; qui., das 11h às 20h
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, tel.
0/xx/11/3251-5644; livre)
Quanto: R$ 15; grátis às terças
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