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Análise
Paulínia consagra melodrama
Júri do Festival elege longa esquemático em vez de inventivo e premia política em vez de cinema
Melhor filme, o melodrama "Olhos Azuis" levou outros cinco prêmios; "Antes que o Mundo Acabe" foi destaque com quatro estatuetas
JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA
O grande vencedor do 2º Festival Paulínia de Cinema,
"Olhos Azuis", de José Joffily, é
um melodrama policial sobre
humilhações que cidadãos do
Terceiro Mundo enfrentam para entrar nos Estados Unidos.
O filme, que ganhou seis prêmios, incluindo os de melhor
filme, roteiro e montagem, focaliza um policial do departamento de imigração (David
Rasche) que barbariza em seu
último dia de trabalho antes da
aposentadoria, agredindo e humilhando latino-americanos
num aeroporto dos EUA.
Narrado em dois tempos alternados, "Olhos Azuis" acompanha também a jornada do
policial americano pelo Nordeste brasileiro em busca da filha de uma das vítimas da sua
noite de insanidade. Cristina
Lago, no papel da prostituta
que lhe serve de guia, ganhou o
prêmio de atriz, dividido com
as protagonistas de "Quanto
Dura o Amor?", Silvia Lourenço e Maria Clara Spinelli.
O outro grande premiado de
Paulínia foi o comovente e divertido "Antes que o Mundo
Acabe", de Ana Luiza Azevedo,
que levou as estatuetas de direção, fotografia e música, além
do prêmio da crítica.
O filme, ambientado numa
cidadezinha gaúcha, narra a
descoberta do mundo por um
garoto de 15 anos que divide
com o melhor amigo o amor
por uma garota. É um "Jules e
Jim" adolescente, combinando
o humor esperto de Jorge Furtado (um dos roteiristas) com a
notável delicadeza da diretora.
Ao cumular de prêmios o esquemático "Olhos Azuis" e ignorar os muito mais inventivos
"Quanto Dura o Amor?", de Roberto Moreira, e "No Meu Lugar", de Eduardo Valente, o júri
de Paulínia matou o cinema e
foi à política. Venceu o "grande
tema", o manifesto ideológico,
com direito a catárticos discursos anti-imperialistas, em detrimento do cinema.
Vários documentários fortes
competiam. O prêmio principal
da categoria foi para "Só Dez
por Cento É Mentira", de Pedro
Cezar, exitoso ao buscar em sua
própria tessitura fílmica um
diálogo com a poesia lúdica de
Manoel de Barros.
O prêmio de melhor direção
em documentário foi para
"Herbert de Perto", de Roberto
Berliner e Pedro Bronz, que
narra com emoção contida e riqueza de material a saga de
Herbert Vianna. "Moscou", de
Eduardo Coutinho, ficou com o
prêmio da crítica e "Caro Francis", de Nelson Hoineff, com o
do público.
Num festival que prima por
certa grandiosidade deslocada,
com um teatro faraônico e uma
passarela de celebridades no
meio do nada, a única unanimidade foi "Destino", de Moacyr
Góes, estrelado por Lucélia
Santos. Todo mundo detestou
esse melodrama televisivo ambientado em paisagens exóticas
do Brasil e da China.
Outro premiado do festival
encerrado anteontem foi "O
Contador de Histórias", de Luiz
Villaça, cinebiografia de Roberto Carlos Ramos, ex-interno de
reformatório tido como um dos
melhores narradores orais do
mundo. Ganhou os prêmios especial do júri e o do público.
O jornalista viajou a convite da organização do
Festival.
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