São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Análise

Paulínia consagra melodrama

Júri do Festival elege longa esquemático em vez de inventivo e premia política em vez de cinema

Melhor filme, o melodrama "Olhos Azuis" levou outros cinco prêmios; "Antes que o Mundo Acabe" foi destaque com quatro estatuetas

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A PAULÍNIA

O grande vencedor do 2º Festival Paulínia de Cinema, "Olhos Azuis", de José Joffily, é um melodrama policial sobre humilhações que cidadãos do Terceiro Mundo enfrentam para entrar nos Estados Unidos.
O filme, que ganhou seis prêmios, incluindo os de melhor filme, roteiro e montagem, focaliza um policial do departamento de imigração (David Rasche) que barbariza em seu último dia de trabalho antes da aposentadoria, agredindo e humilhando latino-americanos num aeroporto dos EUA.
Narrado em dois tempos alternados, "Olhos Azuis" acompanha também a jornada do policial americano pelo Nordeste brasileiro em busca da filha de uma das vítimas da sua noite de insanidade. Cristina Lago, no papel da prostituta que lhe serve de guia, ganhou o prêmio de atriz, dividido com as protagonistas de "Quanto Dura o Amor?", Silvia Lourenço e Maria Clara Spinelli.
O outro grande premiado de Paulínia foi o comovente e divertido "Antes que o Mundo Acabe", de Ana Luiza Azevedo, que levou as estatuetas de direção, fotografia e música, além do prêmio da crítica.
O filme, ambientado numa cidadezinha gaúcha, narra a descoberta do mundo por um garoto de 15 anos que divide com o melhor amigo o amor por uma garota. É um "Jules e Jim" adolescente, combinando o humor esperto de Jorge Furtado (um dos roteiristas) com a notável delicadeza da diretora.
Ao cumular de prêmios o esquemático "Olhos Azuis" e ignorar os muito mais inventivos "Quanto Dura o Amor?", de Roberto Moreira, e "No Meu Lugar", de Eduardo Valente, o júri de Paulínia matou o cinema e foi à política. Venceu o "grande tema", o manifesto ideológico, com direito a catárticos discursos anti-imperialistas, em detrimento do cinema.
Vários documentários fortes competiam. O prêmio principal da categoria foi para "Só Dez por Cento É Mentira", de Pedro Cezar, exitoso ao buscar em sua própria tessitura fílmica um diálogo com a poesia lúdica de Manoel de Barros.
O prêmio de melhor direção em documentário foi para "Herbert de Perto", de Roberto Berliner e Pedro Bronz, que narra com emoção contida e riqueza de material a saga de Herbert Vianna. "Moscou", de Eduardo Coutinho, ficou com o prêmio da crítica e "Caro Francis", de Nelson Hoineff, com o do público.
Num festival que prima por certa grandiosidade deslocada, com um teatro faraônico e uma passarela de celebridades no meio do nada, a única unanimidade foi "Destino", de Moacyr Góes, estrelado por Lucélia Santos. Todo mundo detestou esse melodrama televisivo ambientado em paisagens exóticas do Brasil e da China.
Outro premiado do festival encerrado anteontem foi "O Contador de Histórias", de Luiz Villaça, cinebiografia de Roberto Carlos Ramos, ex-interno de reformatório tido como um dos melhores narradores orais do mundo. Ganhou os prêmios especial do júri e o do público.


O jornalista viajou a convite da organização do Festival.


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