São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Repertório contemporâneo é trunfo do Arditti

Em recital no Masp, quarteto mostra virtuosismo na execução de partituras de tempos dilatados e acelerados

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

"Stringendo" é uma expressão italiana utilizada para indicar o aumento gradual da velocidade de um trecho musical. É também o título de uma obra para quarteto de cordas do compositor francês Philippe Manoury.
A obra, de 2010, foi centro e resumo da apresentação do Arditti Quartet na noite da última sexta-feira, no Masp, concerto que integrou a programação do Festival de Campos do Jordão na capital.
A música de Manoury -cujo título traz embutido o termo "string" (corda, em inglês)- é apenas uma entre centenas de obras contemporâneas estreadas pelo grupo desde 1974, ano em que foi criado pelo violinista britânico Irvine Arditti.
A composição esbanja técnica: o tempo vai apertando com elegância, de maneira giratória, tornando tudo claro e distinto, com um virtuosístico controle da sonoridade resultante. Com seus rangidos monótonos, a "Litania" do brasileiro Silvio Ferraz -homenagem ao compositor Almeida Prado (1943-2010)- funcionou como contraste ao sustentar a oscilação de um tempo arrastado e dolorido.
Ao contrário do que se dá a ver no "Quarteto n.1", de autoria do tcheco Leo Janácek (1854-1928), que abriu o programa do recital, os cortes súbitos que pontuam a peça de Ferraz em nenhum momento desestabilizam os silêncios longínquos.
Deve ter sido uma honra para o jovem paraibano Marcílio Onofre ter o seu breve "Quarteto n.2" apresentado pelo quarteto.
Autor de obras interessantes como "Chamber Echo" (2006), Onofre foi escolhido para representar os bolsistas premiados pelo festival.

NOVA COMPLEXIDADE
Embora impecavelmente executada, a obra do inglês Brian Ferneyhough foi a menos aplaudida da noite. Líder da chamada "nova complexidade", o autor imprime na "Dum Transissets I-IV" sua típica rede de conexões, que testam e provocam a tolerância da escuta.
O entusiasmo que o Arditti tem pelo repertório contemporâneo ficou ainda mais patente no "Quarteto n.2", (1968) do húngaro Gyorgy Ligeti (1923-2006), interpretado com o mesmo respeito que se devota a Brahms (1833-1897).
De certo modo, Ligeti não deixa de ser o Brahms do século 20: suas partituras sintetizam a tradição e formulam o futuro. Com a autoridade do Arditti, o tempo apertado e nervoso de sua obra aceitou-se maquinal e explodiu em brutalidade, até fechar a noite com uma inesperada delicadeza.

ARDITTI QUARTET

AVALIAÇÃO ótimo


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