São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES CÊNICAS

7º Festival Internacional da cidade busca novos significados para palcos, ruas e espaços não-convencionais

Belo Horizonte amplia o lugar do teatro

Lenise Pinheiro - 15.fev.2003/Folha Imagem
Cena de "O Paraíso Perdido", espetáculo com o grupo Teatro da Vertigem, que vai estar no Festival de Teatro de Belo Horizonte


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na praça da Estação, centro da cidade, os performáticos atores do grupo australiano Strange Fruit desafiam a gravidade dentro e fora de esferas luminosas, suspensas. Na Igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Sion, o Anjo, ou também Adão e Eva, experimentam a dor da queda em "O Paraíso Perdido", do grupo paulista Teatro da Vertigem.
As duas atrações da primeira noite, hoje, refletem a vocação do Festival Internacional de Teatro - Palco & Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) para incentivar a ressignificação do espaço na cena contemporânea, sina que carrega no próprio nome desde o nascimento, dez anos atrás.
Ônibus, cadeia, hospital, palacete e até o zoológico tornam-se lugar do teatro na programação.
A sétima edição do evento bienal (era para ser a 6ª, mas houve uma edição suplementar no centenário de Belo Horizonte, em 1997) reata com o prestigiado grupo Galpão, que ajudou a criar o festival e depois se afastou por discordar das linhas conceituais -ontem, como hoje, trata-se de realização da prefeitura, via Secretaria Municipal da Cultura.
O Galpão remontou duas comédias do repertório especialmente para o evento: "Um Molière Imaginário", encenado num hospital para pessoas com problemas mentais, e "O Inspetor Geral", num antigo palacete.
Uma das características do FIT-BH é o investimento na formação do público e dos artistas da cidade. A mostra oficial começa agora, mas os projetos especiais vêm desde julho. Exemplos: seminário de teatro de rua, auxílio-montagem (R$ 40 mil) para dois espetáculos do gênero, curso de inglês para técnicos, oficinas do público (comentários e análises das peças), escalação de duas famílias do sul do país dedicadas ao circo-teatro, a Bebé (RS) e a Biriba (SC) e um segundo seminário, voltado para o teatro de bonecos.
Aliás, foi preparada homenagem ao grupo de bonecos Giramundo, cujos fundadores, Terezinha Veloso e Álvaro Apocalypse, morreram no ano passado. Haverá uma exposição e a encenação de "Cobra Norato" (1979), um clássico da trupe, baseado no poema de Raul Bopp.
Há uma semana, houve conferência do diretor inglês Peter Brook. Lotou o teatro Francisco Nunes. Mesmo após fechar a grade de programação, o festival conseguiu que Belo Horizonte não só testemunhasse o pensamento vivo de um dos maiores encenadores do planeta, como o visse traduzido no palco.
"Tierno Bokar", a nova montagem do Centro Internacional de Criação Teatral (Cict), com sede no Théâtre des Bouffes du Nord, em Paris, ganhou até uma sessão extra, dada a procura por ingressos (a R$ 8, antecipado). Serão cinco apresentações, de 26 a 30/8.
Entre as atrações internacionais, destacam-se ainda "La Casa de Rigoberta Mira al Sur", da Nicarágua, com o grupo Justo Rufino Garay. O texto, que trata das revoluções latino-americanas e o sonho de uma sociedade mais justa, a partir do passado e do presente da personagem-título, foi escrito pelo argentino Arístides Vargas, radicado no Equador com o grupo Malayerba.
O palhaço Tortell, do Circ Crac, da Espanha, apresenta na rua um mix de seus melhores números. O Teatro Tascabile de Bergamo, na Itália, encena "Valse", dançado por dez atores em pernas-de-pau. No solo "No Fear!", a inglesa Linda Marlowe conjuga música, mímica e trapézio.
Do México, o Teatro de Ciertos Habitantes traz "El Automóvil Gris" e mostra como a busca por um lugar pode levar a outros. Trata-se de uma prospeção à Cidade do México de 1915, por meio de um clássico do cinema mudo daquele país. A inspiração vem da tradicional técnica japonesa "benshi" (narração para filmes mudos). São entrecruzados espaços, linguagens, culturas e tempo.

Nacionais
Grupos de outros Estados marcam presença com "Otelo", do grupo Folias d'Arte (SP); "O Que Diz Molero", do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (RJ); "Antônio, Meu Santo" e "Os Desvalidos", do Imbuaça (SE); "De Malas Prontas", do Pé de Vento (SC); e "Toré", um ritual na rua com a tribo Kariri-Xocó (AL).
Ao todo, são 28 cias. (oito internacionais). Segundo o coordenador-geral do FIT-BH, Marcelo Bones, 43, "a programação foi definida a partir do aprimoramento do conceito do festival, em discussões com a classe artística e a sociedade desde 2003". Os coordenadores-adjuntos são Bya Braga e Guilherme Marques.
Bones estima que os espetáculos (palco, rua e alternativos) e demais atividades atraiam de 120 mil a 130 mil pessoas. O orçamento é de R$ 2,8 milhões.

7º FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO - PALCO & RUA DE BELO HORIZONTE. Quando: de hoje a 30/8. Quanto: R$ 20 e grátis. Inf.: tel. 0/xx/31/ 3273-2051; www.fitbh.com.br. Patrocinadores: Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, Telemar, Vallourec & Mannesman do Brasil, Coca-Cola e Cemig.


Texto Anterior: Desfile: Tapete vermelho "cresce" e aumenta constrangimento
Próximo Texto: Sagrado pontua viagem do Vertigem
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.