|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Memória
Todos os discos de jazz tinham Max na bateria
Baterista, morto na última quinta, tocou com lendas como Gillespie e Parker
RUY CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Max Roach só não inventou a bateria do
bebop porque seu
colega Kenny Clarke, dez anos
mais velho, estava lá na primeira hora, em 1945, ao lado de
Charlie Parker e Dizzy Gillespie. Mas Clarke vinha de outros
estilos -de Louis Armstrong
em diante, já havia tocado com
jazzistas de todos os gêneros.
Max Roach, seu maior discípulo, nasceu com o bebop. E nunca foi superado por ninguém.
De 1946 a, pelo menos, 1962,
Roach esteve em todos os lances inaugurais e reuniões de cúpula do jazz. Com Dizzy, naquele tempo, ajudou a transpor
para os pratos o feitiço das congas cubanas -era o afro-cubano. Com Miles Davis e Gerry
Mulligan, em 1949-50, participou das gravações que deram
origem ao "Birth of the Cool".
Na noite de 15 de maio de 1953,
no Massey Hall, em Toronto,
que se propunha a reunir o
"maior quinteto de todos os
tempos" -Parker, sax-alto;
Gillespie, trompete; Bud
Powell, piano; Charles Mingus,
contrabaixo-, quem era o batera? Max Roach.
Em 1954-56, outra explosão:
em parceria com o trompetista
Clifford Brown, co-liderou um
quinteto (contendo Sonny
Rollins ao sax-tenor) do qual
saiu o hard bop -o bop reduzido aos essenciais-, talvez o estilo mais clássico e duradouro
do jazz moderno. Impossível
prever a que alturas esse grupo
teria chegado não fosse pela
morte de Brown, aos 26 anos,
em 1956. E, em 1962, um trio
que só parecia possível em sonho -Duke Ellington ao piano,
Mingus no baixo e Max na bateria- resultou no disco "Money
Jungle".
Coincidência ou não, no começo dos anos 60, todos os discos de jazz que me caíam às
mãos tinham Max Roach na bateria. Era como se, em seu instrumento, só ele existisse. E, de
certa forma, era isso mesmo.
Texto Anterior: Fábio de Souza Andrade: Um copo de mar Próximo Texto: Raio-X Índice
|