São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2007

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Memória

Todos os discos de jazz tinham Max na bateria

Baterista, morto na última quinta, tocou com lendas como Gillespie e Parker

RUY CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Max Roach só não inventou a bateria do bebop porque seu colega Kenny Clarke, dez anos mais velho, estava lá na primeira hora, em 1945, ao lado de Charlie Parker e Dizzy Gillespie. Mas Clarke vinha de outros estilos -de Louis Armstrong em diante, já havia tocado com jazzistas de todos os gêneros. Max Roach, seu maior discípulo, nasceu com o bebop. E nunca foi superado por ninguém.
De 1946 a, pelo menos, 1962, Roach esteve em todos os lances inaugurais e reuniões de cúpula do jazz. Com Dizzy, naquele tempo, ajudou a transpor para os pratos o feitiço das congas cubanas -era o afro-cubano. Com Miles Davis e Gerry Mulligan, em 1949-50, participou das gravações que deram origem ao "Birth of the Cool". Na noite de 15 de maio de 1953, no Massey Hall, em Toronto, que se propunha a reunir o "maior quinteto de todos os tempos" -Parker, sax-alto; Gillespie, trompete; Bud Powell, piano; Charles Mingus, contrabaixo-, quem era o batera? Max Roach.
Em 1954-56, outra explosão: em parceria com o trompetista Clifford Brown, co-liderou um quinteto (contendo Sonny Rollins ao sax-tenor) do qual saiu o hard bop -o bop reduzido aos essenciais-, talvez o estilo mais clássico e duradouro do jazz moderno. Impossível prever a que alturas esse grupo teria chegado não fosse pela morte de Brown, aos 26 anos, em 1956. E, em 1962, um trio que só parecia possível em sonho -Duke Ellington ao piano, Mingus no baixo e Max na bateria- resultou no disco "Money Jungle".
Coincidência ou não, no começo dos anos 60, todos os discos de jazz que me caíam às mãos tinham Max Roach na bateria. Era como se, em seu instrumento, só ele existisse. E, de certa forma, era isso mesmo.


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