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Armário faz música para amigos virtuais
Robô Cybraphon reage "emocionalmente" a atividades de contatos on-line
No Festival de Artes de Edimburgo, robô monitora Facebook, MySpace e Twitter e relaciona emoções a 20 trechos de músicas
GUSTAVO VILLAS BOAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém diria que o armário
de aparência antiquada usa
Twitter, Facebook e YouTube
para divulgar sua música. O robô musical Cybraphon é um experimento artístico em exibição no Festival de Artes de
Edimburgo. Trata-se de uma
banda completa: as músicas
-sempre originais- expõem
suas "emoções" dependendo de
sua popularidade on-line.
Sensível, o Cybraphon está
constantemente monitorando
as redes sociais de que participa
para avaliar o quanto andam falando dele e qual é o número de
seguidores ou de fãs (são mais
de 2.000 no Facebook).
"Queríamos criar um instrumento musical com o qual as
pessoas pudessem interagir via
internet. Mas isso não funcionaria, porque apenas uma pessoa poderia tocar por vez. Então, pensamos em usar redes
socais para influenciar a música, porque isso envolve um
monte de gente", disse Tommy
Perman, integrante do grupo
musical (real) FOUND e um
dos criadores do experimento.
A inspiração para o batismo
veio de "bandas mecânicas dos
anos 1900, como Orchestrion e
Nickelodeon" e levou em consideração, claro, a internet. "Gastamos muito tempo testando
nomes diferentes no Google até
achar um que desse resultado
zero", afirma Perman.
A forma como a máquina reage à popularidade on-line também é atual. "O professor Simon Kirtby modelou as emoções do Cybraphon como se ele
fosse uma banda indie contemporânea", conta Perman.
Kirtby é professor de linguística e pesquisa sobre aprendizado de máquinas na Universidade de Edimburgo. Outro membro da FOUND, Ziggy Campbell, participa do projeto.
O músico escocês usa a própria banda como exemplo.
"Sinto-me culpado por ser obcecado pelas estatísticas do site
e estar constantemente verificando nossa página no MySpace. Acredito que somos afetados pela nossas relações sociais
on-line", afirma Perman.
Para o aparelho criar as músicas, acústicas, foram relacionadas emoções a 20 trechos diferentes: o Cybraphon, quando
está "desolado", "indiferente"
ou "em delírio", entre outros
estados, recombina esses pedaços em algo musical. Os instrumentos -que vão de um prato
de bateria a um órgão eletrônico- são tocados por partes robóticas e resultam em um som
simplíssimo, mas coerente, que
sai por duas cornetas de um antigo gramofone.
Se por dentro o Cybraphon
vem sendo chamado de robô-emo por sua suscetibilidade,
por fora não falta quem o compare a um monstro. Para
Tommy, ambas as pechas são
injustas. Ele diz que a engenhoca só quer "tocar música e ser
feliz", rejeitando a comparação
feita pela reportagem com
Frankenstein.
Mas é fato que a criatura já
superou o grupo musical que é
sua matriz, pelo menos no que
interessa a ela: o robô já é muito
mais popular na internet. Não
há inveja, garante o músico
-Cybraphon e FOUND tocaram juntos na última quinta.
Por enquanto, a combinação
tem agradado às plateias das redes sociais, diz Tommy. "É fascinante como as pessoas ficaram envolvidas com um robô.
Elas escrevem para ele no
Twitter, Facebook e MySpace
quando ele está deprimido."
O sucesso já faz com que os
idealizadores do Cybraphon
pensem em voos maiores. Cogitam convidar músicos para expandir o repertório do robô e
desejam uma turnê europeia.
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