São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Armário faz música para amigos virtuais

Robô Cybraphon reage "emocionalmente" a atividades de contatos on-line

No Festival de Artes de Edimburgo, robô monitora Facebook, MySpace e Twitter e relaciona emoções a 20 trechos de músicas


GUSTAVO VILLAS BOAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém diria que o armário de aparência antiquada usa Twitter, Facebook e YouTube para divulgar sua música. O robô musical Cybraphon é um experimento artístico em exibição no Festival de Artes de Edimburgo. Trata-se de uma banda completa: as músicas -sempre originais- expõem suas "emoções" dependendo de sua popularidade on-line.
Sensível, o Cybraphon está constantemente monitorando as redes sociais de que participa para avaliar o quanto andam falando dele e qual é o número de seguidores ou de fãs (são mais de 2.000 no Facebook).
"Queríamos criar um instrumento musical com o qual as pessoas pudessem interagir via internet. Mas isso não funcionaria, porque apenas uma pessoa poderia tocar por vez. Então, pensamos em usar redes socais para influenciar a música, porque isso envolve um monte de gente", disse Tommy Perman, integrante do grupo musical (real) FOUND e um dos criadores do experimento.
A inspiração para o batismo veio de "bandas mecânicas dos anos 1900, como Orchestrion e Nickelodeon" e levou em consideração, claro, a internet. "Gastamos muito tempo testando nomes diferentes no Google até achar um que desse resultado zero", afirma Perman.
A forma como a máquina reage à popularidade on-line também é atual. "O professor Simon Kirtby modelou as emoções do Cybraphon como se ele fosse uma banda indie contemporânea", conta Perman. Kirtby é professor de linguística e pesquisa sobre aprendizado de máquinas na Universidade de Edimburgo. Outro membro da FOUND, Ziggy Campbell, participa do projeto.
O músico escocês usa a própria banda como exemplo. "Sinto-me culpado por ser obcecado pelas estatísticas do site e estar constantemente verificando nossa página no MySpace. Acredito que somos afetados pela nossas relações sociais on-line", afirma Perman.
Para o aparelho criar as músicas, acústicas, foram relacionadas emoções a 20 trechos diferentes: o Cybraphon, quando está "desolado", "indiferente" ou "em delírio", entre outros estados, recombina esses pedaços em algo musical. Os instrumentos -que vão de um prato de bateria a um órgão eletrônico- são tocados por partes robóticas e resultam em um som simplíssimo, mas coerente, que sai por duas cornetas de um antigo gramofone.
Se por dentro o Cybraphon vem sendo chamado de robô-emo por sua suscetibilidade, por fora não falta quem o compare a um monstro. Para Tommy, ambas as pechas são injustas. Ele diz que a engenhoca só quer "tocar música e ser feliz", rejeitando a comparação feita pela reportagem com Frankenstein.
Mas é fato que a criatura já superou o grupo musical que é sua matriz, pelo menos no que interessa a ela: o robô já é muito mais popular na internet. Não há inveja, garante o músico -Cybraphon e FOUND tocaram juntos na última quinta.
Por enquanto, a combinação tem agradado às plateias das redes sociais, diz Tommy. "É fascinante como as pessoas ficaram envolvidas com um robô. Elas escrevem para ele no Twitter, Facebook e MySpace quando ele está deprimido."
O sucesso já faz com que os idealizadores do Cybraphon pensem em voos maiores. Cogitam convidar músicos para expandir o repertório do robô e desejam uma turnê europeia.


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