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ANÁLISE
Gramado-98 refunda-se ou devora-se
AMIR LABAKI
enviado especial a Gramado
Emprestando a fórmula usada
por Truffaut para classificar Cannes-58, não há nem polêmica a estabelecer, tão evidente a frustração
sobre o 25º Festival de Gramado.
A César o que é de César. A volta
de Esdras Rubim à coordenação
geral, depois de quatro anos fora,
devolveu em tese a Gramado o foco: nas palavras dele, "voltar a ser
um festival de cinema".
Festivais de cinema são movidos
por filmes e encontros. Gramado-97 saiu-se bem apenas no segundo termo. Em primeiro lugar,
voltou a privilegiar a presença dos
profissionais de cinema em vez
dos coadjuvantes de ocasião.
Em segundo, promoveu três importantes debates: produtores,
distribuidores e exibidores, pesquisadores de cinema do Mercosul
e diretores dos festivais brasileiros.
O sucesso fora das telas esteve
longe de compensar a mediocridade da seleção dos títulos em competição. A disputa brasileira depôs
fortemente contra o decantado renascimento do cinema nacional.
"For All", o grande vencedor, é
uma comédia superficial e bem
produzida que fica muito além do
belo tema que elegeu. "Os Matadores", o segundo mais premiado, é uma estréia menos promissora do que apontavam os curtas
de Beto Brant. Já "Bocage" é biscoito fino demais para o evento.
São os três que contavam. Os outros três acabaram saindo também
generosamente premiados, no lucro. "O Homem Nu" não está à
altura das deliciosas comédias iniciais de Hugo Carvana.
"Buena Sorte" é o típico equívoco dos filmes que acham conhecer o público que almejavam. Por
fim, "O Amor Está no Ar" foi
comprometido demais pelos problemas da produção.
A competição ibero-americana,
dita latina, reprisou as limitações
de sempre. Continua feita por títulos fracos ou requentados.
"O Testamento do Senhor Napomuceno" é um justo monumento para o festival deste ano: tão
cheio de boas intenções e de furos
quanto o evento. O estupendo desempenho de Nélson Xavier e as
belíssimas locações cabo-verdianas são insuficientes para compensar a direção claudicante de
Francisco Manso para um raro roteiro sem rigor de Mário Prata.
A boa nova foi a safra de curtas
35mm. A excessiva concentração
de prêmios no apenas agradável
"Decisão" faz injustiça à qualidade e variedade dos concorrentes.
Em resumo, Gramado-98 refunda-se ou devora-se. Simples assim.
O crítico Amir Labaki esteve em Gramado a
convite da organização do festival
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