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POLÊMICA
Portaria entra em vigor hoje, dia dos 50 anos da televisão brasileira
Cineastas e emissoras de TV debatem a nova lei
SILVANA ARANTES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A portaria do Ministério da Justiça que dita novas regras de classificação para cinema, rádio, TV e
espetáculos públicos entra em vigor hoje, dia em que se comemoram os 50 anos da primeira transmissão da televisão brasileira.
O texto, publicado há uma semana no "Diário Oficial" da
União, cria uma nova faixa etária
de classificação, a dos 16 anos.
Antes, uma atração era liberada
ou não para maiores de 12, 14 ou
18 anos. Além disso, o documento
prevê punições baseadas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
As emissoras de TV temem a
volta da censura e decidiram esperar maiores esclarecimentos do
governo para colocar a nova lei
em prática. Assim, a programação não deve sofrer hoje nenhuma alteração importante.
Enquanto os diretores das
maiores redes de televisão se articulam para entrar em negociação
com o ministério, os cineastas
também estão se mobilizando para enfrentar a nova portaria.
Representantes do setor de produção e distribuição cinematográfica reúnem-se hoje, no Rio de
Janeiro, para avaliar o possível
impacto da medida e decidir uma
estratégia de atuação.
Marisa Leão, vice-presidente do
Sindicato Nacional da Indústria
Cinematográfica, diz que a determinação da portaria de estender a
classificação dos filmes aos trailers será prejudicial à atividade.
De acordo com as novas regras,
os trailers só poderão ser exibidos
em sessões cuja produção em cartaz seja para uma faixa etária igual
ou maior à do filme anunciado.
Segundo a assessoria do ministério, a única maneira de anunciar
um filme classificado para uma
faixa etária maior à liberada para
a sessão é não usar imagens.
A reunião de hoje será na sede
da United International Pictures
(UIP) e deve contar com a presença de representantes das distribuidoras dos estúdios Paramount, MGM, Universal e
DreamWorks, integrantes do Sindicato Nacional dos Distribuidores e do Sindicato Nacional da Indústria Cinematográfica.
Marisa Leão afirma que a tendência é, após o encontro, o grupo marcar uma audiência com o
ministro da Justiça, José Gregori,
"para discutir o assunto e chegar a
um entendimento sobre o cinema". Ela integra a Comissão do
Cinema do Ministério da Cultura,
que realizou discussões antes da
elaboração da portaria do Ministério da Justiça e se diz "surpreendida" pela decisão do ministro.
"A Comissão sempre foi contra
a adoção dessa medida em relação aos trailers. Acreditávamos
que o ministro iria acatar nossa
sugestão", diz.
O cineasta Sérgio Bianchi, diretor de "Cronicamente Inviável",
uma crítica à situação do país, diz
que não vem acompanhando o
debate e que se concentra, no momento, "em trabalhar para que
seu filme não saia de cartaz".
"A verdadeira história de todo
esse esquema é incrível. É tudo
burlado. Enfim, é o que já se sabe:
se o governo não tem um projeto
de defesa do cinema brasileiro no
contexto de um projeto cultural
para o país, vira terra de ninguém", diz.
O gerente-geral da UIP-Brasil,
César Pereira, diz que ainda não
tem opinião formada sobre as
possíveis consequências da portaria do Ministério da Justiça.
"Seria precipitado fazer qualquer avaliação agora. Precisamos,
nessa reunião, ler cuidadosamente a portaria e discuti-la", diz.
Outra determinação do documento que afeta o cinema é a de
que os requerimentos de classificação ao ministério só podem ser
feitos com entrega de cópia do
Certificado de Registro de Obras
Audiovisuais.
A intenção é combater a sonegação da taxa de Contribuição ao
Desenvolvimento da Indústria
Cinematográfica Nacional, que
precisa ser paga para obtenção do
registro.
A taxa cobrada varia de R$ 51 a
R$ 1.339, de acordo com a duração do produto.
A Folha procurou o secretário
nacional do Audiovisual, José Álvaro Moisés, para comentar o assunto, mas não obteve resposta. A
coordenadora-geral de atividades
audiovisuais, Vicência Morais,
disse que não estava autorizada a
se pronunciar.
Colaborou Laura Mattos, da Reportagem Local
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