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"O POVO BRASILEIRO"
Cultura mostra documentário sobre a formação do Brasil
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"O Povo Brasileiro", série
de dez documentários
que estréia esta noite na TV aberta, na Cultura, passeia pelas "matrizes" Tupi, Luso e Afro do Brasil
e pelas formações geográficas-culturais, nos episódios "Crioulo", "Sertanejo", "Caipira", "Caboclo" e "Sulinos". Especula sobre o encontro colonial no episódio cinco e sobre a "Invenção do
Brasil" no último capítulo.
A série, dirigida por Isa Grinspum Ferraz, com roteiros dela, de
Antonio Risério e de Marcos
Pompéia, coloca-se como testamento intelectual do senador-antropólogo-educador e colunista
da Folha, que se destacou pela militância irreverente e inovadora
em todas essas áreas. A direção de
arte é de Rico Lins.
Um depoimento de Darcy Ribeiro pontua os programas, que
contam com a participação de
Chico Buarque, Gilberto Gil, Tom
Zé, Antonio Candido, Hermano
Vianna, entre outros.
A montagem bem cuidada alinhava, como nas maravilhosas
colchas de retalho que servem de
fundo aos depoimentos de intelectuais, pedaços de documentários, longas-metragens, fotos,
obras-de-arte, paisagens, poemas, depoimentos populares, pedaços do Brasil arranjados de maneiras diferentes ao longo do trajeto.
Pero Vaz de Caminha, Fernando Pessoa, Glauber Rocha, Clementina de Jesus, Cartola, dos
templos mouriscos da Península
Ibérica às paisagens urbanas contemporâneas saturadas pela mídia e pelo mercado de consumo,
"O Povo Brasileiro" representa
uma vertente conhecida, poderosa e polêmica de interpretação do
Brasil, com raízes em Gilberto
Freyre.
Na versão de Darcy, a fábula da
integração das três raças provavelmente atinge seu grau máximo
de atualidade e sensibilidade à
violência e conflito velado que essa matriz interpretativa suporta.
Os capítulos iniciais se destacam pela descrição das origens indígena, afro e portuguesa, frequentemente desprezadas no
Brasil. Aqui as sabedorias dos legados nativos merecem realce.
No intuito de explorar universos pouco conhecidos, muitas vezes "exotizados" como diferentes,
e saudar indícios de geração de
novos modos de existência, o seriado reproduz uma dificuldade
brasileira em lidar explicitamente
com as divergências, as desigualdades sociais e políticas.
Não há aqui menção a outras linhas interpretativas. A história
contada por meio dos vários recursos citados é linear, como se
não houvesse outras possibilidades de interpretação sobre os fatos e fenômenos culturais citados.
O Brasil de "O Povo Brasileiro"
se constitui em um universo mítico, em um registro semelhante ao
das matrizes culturais abordadas.
Vale conhecer uma vertente influente de abordagem e interpretação do Brasil.
E-mail - ehamb@uol.com.br
O Povo Brasileiro
Quando: estréia hoje, às 20h
Emissora: Cultura
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