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BEAT DESACELERADO
Músicos encontram as causas da queda de qualidade na popularização e na repetição de fórmulas
Para DJs, crise é o preço da massificação
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de anos de inovação, renovação e reinvenção, a música
eletrônica passa por um processo
de estagnação criativa?
Para responder a essa pergunta,
a Folha ouviu DJs, produtores e
promotores de eventos brasileiros
e estrangeiros. Em maior ou menor medida, todos louvam o crescimento da cena eletrônica, mas
notam que o preço pago pela
massificação dos diferentes gêneros eletrônicos foi acompanhado
por um processo de diluição e de
repetição de fórmulas.
"Quando um estilo é definido
ele pode ser considerado uma forma de arte morta", diz o produtor
Uwe Schmidt, conhecido pelo seu
projeto Señor Coconut. "Com a
música eletrônica se tornando
mainstream há uns dois anos no
mundo, e há quase uma década
na Europa, acho que essa regra
pode ser aplicada. Penso que existe falta de criatividade porque, se
você se atém ao termo "eletrônica", não há nada mais a explorar."
Para outro produtor da vanguarda da música eletrônica, o japonês DJ Krush, há poucas coisas
interessantes para ouvir hoje,
porque os produtores "se tornaram dependentes do equipamento que usam, e o resultado leva a
uma música em que faltam idéias,
criatividade e originalidade".
O guitarrista do Ira!, Edgard
Scandurra, que acaba de lançar
um disco de eletrônica sob o cognome Benzina, aponta, entretanto, que a falta de criatividade não é
exclusiva da música eletrônica. "A
eletrônica entra nessa crise quando passa a ser feita para agradar.
O mesmo acontece no rock, na
MPB. Quando a música é apropriada pelas grandes gravadoras,
é difícil fazer coisa diferente."
Na mesma linha, o DJ Marcelinho da Lua, do Bossacucanova,
diz que o que está pobre na música atual são os arranjos, eletrônicos ou não, que estão "escravizados pelo "copy-paste" [comando
de copiar e colar no computador]
das plataformas digitais".
Outro fator que colabora para
essa massificação é o acesso fácil a
programas de computador e
equipamentos de música eletrônica. Como diz a cantora Laura
Finocchiaro, "quem tiver um dinheirinho compra um programa,
aprende a mexer matematicamente com loops e beats e vira
produtor. Mas, sem estudar música, as produções acabam pobres,
baseadas em fórmulas".
Para o DJ Renato Cohen, essa
facilidade mina a qualidade da
música. "Muitas pessoas só fazem
música porque é fácil, é só apertar
alguns botões no computador do
escritório e não fica tão ruim. É o
mesmo que falar algo só porque
colocaram um microfone na sua
mão. Mas o que você tem a dizer?"
Esse reflexo da produção é sentido também por DJs. Anderson
Noise, que, além de tocar, tem um
selo, diz que, de cem discos que
recebe, "só um dá para tocar".
Mercado e superexposição
É impossível dissociar esse esvaziamento criativo da questão do
crescimento da exposição cada
vez maior da música eletrônica,
fenômeno vivido no Brasil agora.
Uma medida para esse crescimento é a evolução do festival
Skol Beats, que, em 1999, reuniu
18 mil pessoas em São Paulo e, no
ano passado, foi visto por 43.800.
O diretor artístico do festival, Luiz
Eurico Klotz, não vê nesse crescimento um fenômeno de diluição.
"A cena cresce de uma maneira
geral, em festas e eventos, e há
produções pipocando em tudo
quanto é lugar. Consequentemente, o nível de produção ruim
também cresce, mas, da mesma
forma, crescem as produções
boas. Mas não acho que a proporção de coisas ruins aumentou."
Para Marcos Boffa, organizador
do festival Hype, a superexposição existe, mas não é negativa. "A
cultura do DJ sofre uma superexposição, sobretudo, devido à sua
utilização como um elemento de
comunicação para empresas ou
produtos que buscam agregar valor de modernidade a suas marcas. Mas artistas preocupados
com a experimentação são pouco
afetados por esse fenômeno."
Se a música eletrônica está mesmo massificada, quais são as formas de fugir do clichê e de onde
surgirão os novos caminhos?
Para o produtor Mad Zoo, "para
escapar de regras ideológicas que
envelhecem, é preciso criatividade para unir ainda mais o acústico
de boa qualidade aos computadores e sintetizadores". Já Klotz diz
que a saída é o underground e a
música produzida em países como os do Leste Europeu e da
América do Sul. O underground
também é a saída apontada pela
diretora de comunicação da AME
(Associação Amigos da Música
Eletrônica), Cláudia Assef.
Mas o que dizem os produtores?
O cáustico Aphex Twin é taxativo:
"Não lance nada se não for absolutamente brilhante". Já Christian
Fennezs manda um velho recado:
"Não acredite no hype".
(GUILHERME WERNECK)
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