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ANÁLISE
A fórmula ficou fácil
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
A diluição está no DNA da
indústria cultural. Embora a
incrível expansão da cultura de
mercado não tenha eliminado os
picos da inventividade, ela também não deixou de descer aos vales da redundância e do comercialismo descarado. Nada de novo,
portanto, que na música de consumo o processo de formatação,
estilização e diluição de um novo
gênero seja tão veloz quanto a
percepção da indústria a respeito
de suas chances mercadológicas.
A propagação da música eletrônica não fugiria à regra. Tudo, repentinamente, tornou-se "eletrônico". Os mais variados gêneros
musicais, canções de todas as
épocas, nada escapa à onda. Por
aqui, a coisa vai de "Cravo e Canela", de Milton Nascimento, já devidamente remixada, a quem sabe, proximamente, o "Ébrio", na
voz de Vicente Celestino.
Vários caminhos, nesses tempos de internet e "blogalização",
uniram a música brasileira à eletrônica -dos artistas, DJs e produtores locais a seus pares mundo
afora, sem falar na legião de "exilados", como o pioneiro Carlinhos Slinger, que fez a coisa por
lá, ou o bom gringo Suba, que, em
sentido inverso, fez por cá.
Muito da variedade rítmica brasileira esteve presente nisso tudo,
do samba 40 graus que ganhou as
pistas internacionais ao maracatu
de Chico Science, chegando mais
recentemente a Patife, Marky,
Dolores etc. A bossa nova teve um
papel curioso nesse remix internacionalizado. Parece ter acontecido com certa naturalidade seu
encontro com as batidas eletrônicas, do drum&bass às variantes
tipo "lounge".
Apesar da artificialidade de algumas remixagens recentes (mesmo que isso pareça uma redundância), a bossa nova iniciou seu
contato com a música eletrônica
não como um gênero pronto a ser
"escaneado", mas também como
influência. Mesmo na Inglaterra,
um desses lugares em que a música brasileira mal chega à superfície, ela não deixou de ter tocado e
de ter sido tocada nos círculos de
produtores, músicos e compositores. Há bastante bossa nova no
bolo da música inglesa dos anos
80. E não é casual a gravação de
"Corcovado" pelo Everything But
the Girl, no CD "Red Hot in Rio".
A bossa nova está no mundo há
bastante tempo para chegar aonde for na bagagem de quem for. E
boa parte dela chegou aos DJs pelo "easy listening" e por sua estilização mais americanizada, de
Sérgio Mendes a Astrud Gilberto,
passando pelo cult Wanderley.
Esse casamento "drum&bossa", que teve lá seus bons momentos, acabou tornando-se um dos
caminhos favoritos da diluição
eletrônica no Brasil. Ficou muito
fácil. E virou fórmula.
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