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TEATRO
Montagem do diretor pernambucano, uma adaptação da fábula homônima de Adriana Falcão, estréia hoje em SP
Falcão traz "A Máquina" e seus Antônios
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Antônio, viver é mais simples do que se imagina. "É o mundo que você quer? Então eu trago
ele para você", diz para sua amada
Karina. Promessa é dívida.
Na fictícia Nordestina, onde se
passa a história, ele inventa uma
máquina, chama a TV para vê-lo
romper a barreira do tempo, dá
um pulo lá no futuro e tenta trazer
o que prometera: um mundo melhor que o presente.
A breve sinopse revela o tom fabular do livro de estréia da carioca
Adriana Falcão, "A Máquina"
(99), que ela adaptou para o palco
ao lado do marido, o diretor João
Falcão.
O espetáculo, que estreou em
Recife em janeiro deste ano e vem
de temporada de três semanas no
Rio, entra em cartaz hoje em São
Paulo, no Sesc Belenzinho, onde
fica até o final de novembro.
O casal Falcão manteve a essência do livro, mas não titubeou em
multiplicar suas possibilidades
cênicas. A começar pelo protagonista. São quatro Antônios na
aventura pela conquista do coração de Karina. Em verdade, eles
são um.
Também a platéia é dividida em
quatro, disposta como em uma
arena. Um maquinário permite a
movimentação giratória do palco,
sobrepondo os espaços da ação.
Um dos objetivos dessa estrutura é converter em metáfora o que
Antônio busca fazer com o tempo
narrativo, misturando presente,
passado e futuro.
Segundo Falcão, 42, tal concepção permite que a interpretação
dialogue o tempo todo com o espaço cênico e a marcação de luz,
por exemplo, exigindo bastante
do elenco fisicamente.
Quatro atores se revezam no papel de Antônio: Lázaro Ramos,
Gustavo Lago, Wagner Moura e
Vladimir Brichta. Um quinto, Felipe Koury, foi incorporado ao
elenco como substituto eventual,
mas é escalado com frequência
para as sessões. Karina é interpretada por Karina Falcão, sobrinha
do diretor.
"A Máquina" é a primeira produção que Falcão assume nos últimos oito anos - a última foi
"Mamãe Não Pode Saber", em
Recife. Seu trabalhou conquistou
mais visibilidade há cinco anos,
quando mudou-se para o Rio
-quer na televisão (como "A Comédia da Vida Privada", por
exemplo), quer no teatro ("A Dona da História", protagonizada
por Marieta Severo e Andrea Beltrão, e "Uma Noite na Lua", monólogo com Marco Nanini, ambos textos seus).
O exercício da produção remete
à fase em que montava suas peças
em Recife. Apesar de ter sido
"descoberto" recentemente pelas
estrelas globais, o dramaturgo e
diretor Falcão traz o teatro em seu
currículo há 20 anos -estreou
com "Muito pelo Contrário" (80).
Daí o zelo com que vem tratando "A Máquina", mesmo quando
teve que dividir as atenções com a
recente direção de "Quem Tem
Medo de Virginia Woolf", texto
do norte-americano Edward Albee, que saiu há pouco de cartaz
em São Paulo.
Falcão diz que "o carinho especial" é fruto da consolidação do
elenco, talentos desconhecidos
até então, segundo ele.
Ramos e Moura, por exemplo,
vêm da montagem baiana do musical infanto-juvenil "A Ver Estrelas", peça de sua autoria (que
também ganhou versão pernambucana com jovens que participaram de oficinas no processo de
criação de "A Máquina").
Para Falcão, a boa recepção da
fábula de amor de Antônio e Karina (sessões lotadas, algumas extras, nos festivais de Curitiba, Belo
Horizonte e Porto Alegre) se deve
à identificação do público com o
anti-herói.
"Antônio não tem o perfil de
um líder que prega revoluções.
Sua beleza está exatamente na humanidade com que se dedica à
conquista do seu amor, o que o
aproxima de qualquer um de
nós", afirma.
As únicas ferramentas de Antônio são as palavras e as fantasias.
Com pouco esforço, sua oratória
impressiona os programas sensacionalistas de TV, ávidos para que
a saga do homem apaixonado,
que não poupa a própria vida em
sua missão, se transforme em espetáculo para "o mundo todo que
estava esperando ver tripa de Antônio, sangue de Antônio, ossos
de Antônio virar pó".
E a fictícia Nordestina, a Macondo de Adriana Falcão? Para o
encenador, seus moradores podem ser comparados aos brasileiros em seu "complexo de inferioridade", que só fazem consumir o
que vem de fora e torcem o nariz
para o que se produz aqui dentro.
Peça: A Máquina
Autora: Adriana Falcão
Diretor: João Falcão
Com: Lázaro Ramos, Gustavo Lago,
Karina Falcão e outros
Quando: estréia hoje, às 21h; qua. a sáb.,
às 21h; dom., às 20h
Onde: Sesc Belenzinho - galpão de
exposições (r. Álvaro Ramos, 991, tel.
0/xx/11/6096-8143)
Quanto: R$ 20
Clubefolha: 20% de desconto para o
assinante e um acompanhante
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