São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

25ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO

"História Real" é destaque em edição politizada do festival, que abre ao público amanhã

Lynch em linha reta

Divulgação
O ator Richard Fainsworth em cena de "História Real", filme de David Lynch que ganha exibição no primeiro dia da 25ª edição da Mostra BR de Cinema de SP


ANTONIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

O longa "História Real" (1999), de David Lynch, é um dos grandes destaques da programação da 25ª Mostra BR de Cinema de São Paulo, que começa amanhã para o público em uma edição mais "geopolítica" do que nunca.
Nascido em Montana, nos EUA, Lynch, 53, é um tipo bem diferente das figuras mórbidas que animam sua criação.
O criador de "Veludo Azul" (1986) falou à Folha sobre "História Real" e seu modo de filmar. Leia a seguir trechos da entrevista concedida em Barcelona.

Folha - "História Real" não contém seus elementos bizarros habituais. Quis fazer algo diferente?
David Lynch -
Não acho que este seja um filme atípico, diferente dos meus filmes anteriores. Embora mostre o campo e a vida cotidiana, a magia e o mistério estão muito presentes, como nos nos outros filmes. É mais bucólico, mas nem por isso diferente.

Folha - O seu cinema obscuro e poético é mais aceito no exterior do que em seu próprio país. O sr. se identifica com Hollywood?
Lynch -
Eu me sinto identificado com a forma européia de fazer filmes. Por outro lado, sou um típico norte-americano. Meus filmes não podem ser identificados com uma estética européia ou norte-americana, são simplesmente filmes de David Lynch.

Folha - De onde vêm suas idéias?
Lynch -
Não sei. Nem eu nem ninguém. Sei que às vezes explodem em minha cabeça. A mente é um lugar precioso e nada lógico. Mesmo com minha fama de cineasta cerebral e monstruoso, choro cada vez que revejo meus filmes.

Folha - A música é fundamental no seu trabalho, ela faz parte de um todo...
Lynch -
Tenho uma relação muito especial com a música. Normalmente a música dos meus filmes é composta antes e durante a rodagem. Eu chego a dizer ao autor as sensações que quero provocar por meio da música. Uma música fundamental derruba certas barreiras com o público, levando inclusive a experimentações ou à procura de algo que nem mesmo ele sabe o que é.

Folha - "Vivemos num mundo estranho", o sr. disse em "Veludo Azul". Esta frase define sua visão do mundo moderno?
Lynch -
É uma frase bastante acertada. Mas vivemos também num mundo mágico. Penso sempre que a magia é importante, sábia na sua falta de explicação.

Folha - Após "História Real", o sr. volta ao "mundo estranho" em "Mulholland Drive". O sr. já tinha essa idéia durante as filmagens da crônica rural?
Lynch -
É um projeto antigo, do princípio dos anos 90. Somente em 1998 houve a possibilidade de filmá-la para uma cadeia de televisão. Seria uma série como "Twin Peaks", com duas horas. Por diversos problemas, o piloto foi filmado, mas imediatamente vetado. Então resolvi montar uma versão para o cinema.
Mulholland Drive é o nome de uma das rodovias mais populares de Hollywood. Une Los Angeles com as colinas de Hollywood. É estreita e em cada curva revela uma visão diferente e muitas vezes angelical da cidade vista do alto. Existe um certo mistério nela. Evoca a atmosfera mágica e estranha de Hollywood. Quando a noite cai, a rodovia é profundamente misteriosa e inquietante.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Crítica: Não há programa melhor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.