|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
25ª MOSTRA BR DE CINEMA DE SÃO PAULO
"História Real" é destaque em edição politizada do festival, que abre ao público amanhã
Lynch em linha reta
Divulgação
|
O ator Richard Fainsworth em cena de "História Real", filme de David Lynch que ganha exibição no primeiro dia da 25ª edição da Mostra BR de Cinema de SP |
ANTONIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
O longa "História Real" (1999),
de David Lynch, é um dos grandes destaques da programação da
25ª Mostra BR de Cinema de São
Paulo, que começa amanhã para
o público em uma edição mais
"geopolítica" do que nunca.
Nascido em Montana, nos EUA,
Lynch, 53, é um tipo bem diferente das figuras mórbidas que animam sua criação.
O criador de "Veludo Azul"
(1986) falou à Folha sobre "História Real" e seu modo de filmar.
Leia a seguir trechos da entrevista
concedida em Barcelona.
Folha - "História Real" não contém seus elementos bizarros habituais. Quis fazer algo diferente?
David Lynch - Não acho que este
seja um filme atípico, diferente
dos meus filmes anteriores. Embora mostre o campo e a vida cotidiana, a magia e o mistério estão
muito presentes, como nos nos
outros filmes. É mais bucólico,
mas nem por isso diferente.
Folha - O seu cinema obscuro e
poético é mais aceito no exterior
do que em seu próprio país. O sr. se
identifica com Hollywood?
Lynch - Eu me sinto identificado
com a forma européia de fazer filmes. Por outro lado, sou um típico norte-americano. Meus filmes
não podem ser identificados com
uma estética européia ou norte-americana, são simplesmente filmes de David Lynch.
Folha - De onde vêm suas idéias?
Lynch - Não sei. Nem eu nem
ninguém. Sei que às vezes explodem em minha cabeça. A mente é
um lugar precioso e nada lógico.
Mesmo com minha fama de cineasta cerebral e monstruoso,
choro cada vez que revejo meus
filmes.
Folha - A música é fundamental
no seu trabalho, ela faz parte de
um todo...
Lynch - Tenho uma relação muito especial com a música. Normalmente a música dos meus filmes é composta antes e durante a
rodagem. Eu chego a dizer ao autor as sensações que quero provocar por meio da música. Uma música fundamental derruba certas
barreiras com o público, levando
inclusive a experimentações ou à
procura de algo que nem mesmo
ele sabe o que é.
Folha - "Vivemos num mundo estranho", o sr. disse em "Veludo
Azul". Esta frase define sua visão
do mundo moderno?
Lynch - É uma frase bastante
acertada. Mas vivemos também
num mundo mágico. Penso sempre que a magia é importante, sábia na sua falta de explicação.
Folha - Após "História Real", o sr.
volta ao "mundo estranho" em
"Mulholland Drive". O sr. já tinha
essa idéia durante as filmagens da
crônica rural?
Lynch - É um projeto antigo, do
princípio dos anos 90. Somente
em 1998 houve a possibilidade de
filmá-la para uma cadeia de televisão. Seria uma série como
"Twin Peaks", com duas horas.
Por diversos problemas, o piloto
foi filmado, mas imediatamente
vetado. Então resolvi montar uma
versão para o cinema.
Mulholland Drive é o nome de
uma das rodovias mais populares
de Hollywood. Une Los Angeles
com as colinas de Hollywood. É
estreita e em cada curva revela
uma visão diferente e muitas vezes angelical da cidade vista do alto. Existe um certo mistério nela.
Evoca a atmosfera mágica e estranha de Hollywood. Quando a noite cai, a rodovia é profundamente
misteriosa e inquietante.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Crítica: Não há programa melhor Índice
|