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DISCOS/LANÇAMENTO
"MALUCO BELEZA"
Caixa com 6 CDs do roqueiro baiano é vendida por R$ 90
Universal reata com o brega subversivo de Raul Seixas
DA REPORTAGEM LOCAL
A gravadora Universal
marca com a caixa de CDs
"Maluco Beleza" o final de uma
longa fase de litígio com os herdeiros de Raul Seixas. Por acordo
entre as partes, nem a gravadora
nem os herdeiros se manifestam
publicamente sobre o processo,
que teria dado amplo ganho ao
espólio do roqueiro baiano.
De qualquer modo, o lançamento da obra completa de Raul
na ex-Phonogram, numa caixa
com preços mais acessíveis que os
habituais, seria parte integrante
do acordo -que a Universal nega, mas é admitido no círculo dos
herdeiros de Raul. A gravadora
recomenda para a caixa o preço
de R$ 90 (ou seja, R$ 15 por disco).
A fatia da obra de Raul que aqui
se recupera abrange seus quatro
trabalhos mais influentes: "Krig-Ha, Bandolo!" (73), "Gita" (74),
"Novo Aeon" (75) e "Há 10 Mil
Anos Atrás" (76), todos com faixas-bônus. Completam o pacote
dois discos de covers de Raul para
clássicos mundiais do rock'n'roll.
Por eles se enfileiram sucessos
como "Mosca na Sopa", "Metamorfose Ambulante", "Ouro de
Tolo" (73), "Medo da Chuva",
"Sociedade Alternativa", "Gita"
(74), "Tente Outra Vez" (75),
"Ave Maria da Rua" (76)...
Ali está escondido todo o segredo de Raul. Se a permanência de
clones e fanáticos hoje desgasta
sua lembrança, nos 70 ele encarnou tudo de mais cinicamente
subversivo que a MPB e o regime
militar poderiam suportar.
Raul tinha estratégia elaboradíssima, que o afastava tanto do
pólo tropicalista quanto da resistência comandada por Chico
Buarque: buscava a canção estritamente popular. Por isso namorou, sem medo nem pudor, a música cafona dos 70 -ou não são
assumidamente bregas "Água Viva" (74), "Tu És o MDC da Minha
Vida" (75), "O Homem" (76)...?
Sendo talvez o mais aparelhado
dos roqueiros brasileiros dos 70,
Raul era também um artista cafona. Não costuma ser tratado como tal (nem no recente livro "Eu
Não Sou Cachorro, Não", que incendeia a briga entre a MPB e os
"cafonas"), mas foi aquele seu público-alvo, fosse como líder de
conjunto de iê-iê-iê (nos 60), produtor de Jerry Adriani e Leno &
Lilian (em 71) ou o ídolo pop nacional de logo depois.
Por quê? Porque Raul queria, a
um só tempo, fazer o contrário do
que faziam os "cafonas" (que tendiam a mimetizar o discurso oficial militar) e do que faziam os
"elegantes" (já em trajeto de afastamento do grande público, hoje
endêmico na MPB).
Musicalmente Raul apelava ao
coração, ao fígado, à genitália e
aos pulmões -o básico de qualquer artista "popular". Mas intelectualmente (e muito por obra da
parceria com o hoje mago Paulo
Coelho) encetava um discurso furioso, iconoclasta, transgressor.
"Aprendi a fazer música fácil,
comercial, intuitiva e bonitinha,
que leva direitinho o que a gente
quer dizer", dizia Raul em texto
inserido no libreto da caixa.
Mas o que ele queria dizer? É
preciso pesquisar "Rockixe" (73,
que fala de prisões, drogas e ideologia hippie), "Super-Heróis" (74,
raivoso manifesto contra o Brasil
triunfalista de Silvio Santos, Pelé e
Fittipaldi), "A Maçã" (75, a favor
da liberação sexual nos casamentos), "Para Nóia" (75, espetacular
tratado sobre ateísmo e distúrbios
psicológicos), "Canto para Minha
Morte" (76, um doce e arrojado
chamamento/desafio à morte)...
Nenhum desses estilhaços filosóficos foi dirigido ao público elitizado, mas antes ao "populacho".
E os efeitos do poder que o pensamento de Raul exerceu ali nunca
foram dimensionados, até hoje.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Maluco Beleza
Artista: Raul Seixas
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 90 (preço sugerido)
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