São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 2002

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Howard Sounes tenta desfazer "nuvem de desinformação e de mito" em torno de Dylan

O velho Bob

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"Um privilégio e o sonho de uma vida." Assim o escritor inglês Howard Sounes descreve seu recém-lançado tomo sobre uma das personalidades mais enigmáticas e influentes da cultura do século 20. "Ouço a música de Bob Dylan desde os 14 anos", conta o autor em entrevista por e-mail. "Meu livro é motivado por uma profunda consideração por sua obra e pela curiosidade sobre o homem por trás dela."
"Dylan, mais do que muitas figuras públicas, viveu numa nuvem de desinformação e de mito, boa parte deliberadamente criada ou encorajada por ele", explica Sounes. "Um astro misterioso costuma desfrutar de mais longevidade do que uma celebridade cuja vida está aberta ao público."
Biógrafo de outras personalidades públicas (como o casal de serial-killers inglês Fred e Rosemary West e o escritor norte-americano Charles Bukowski), Sounes diz procurar a verdade por trás do glamour pop que as celebridades acumulam com os anos, indo além do que descreve como "anos de jornalismo barato feito por revistas e biografias vagabundas cheias de erros e suposições."
No caso de Dylan, mitômano de si mesmo, o esforço foi dobrado. "Tudo foi difícil", desabafa.
"Dylan se esforçou muito para se tornar famoso e continuar assim por cinco décadas", continua o biógrafo, "Ele é um compositor sério, um artista fantástico e profundo. Mas também faz parte do showbusiness, e, se você quer viver disso, tem que assumir um papel vulgar: se maquiar e usar roupas para o palco, se mostrar na frente das pessoas, fazer entrevistas, posar para fotos. Dylan fez isso tudo com mais estilo que a maioria, mas fez."
O impacto que o livro teve sobre os fãs mais radicais do cantor foi previsível, segundo o autor. "Muitos dos fãs mais obsessivos têm uma crença ególatra de que conhecem tudo sobre Dylan e o entendem de uma forma mais especial que os outros. Um livro como o meu pode contradizer o que eles acham que sabem, por isso é uma fonte de aborrecimento."
"Isso não importa, porque essas pessoas não são o público-alvo do livro, que mira nas pessoas simples, com um interesse ativo pela cultura popular", desconversa.
E o próprio Dylan, o que achou? "Eu não sei o que ele achou do livro ou do fato de que eu o estava pesquisando", conta. "Conversei com membros de sua família, suas namoradas e seus antigos empregados. Minha impressão é que ele é desconfiado de pessoas como eu e se aborrece com o fato de que outros ganham dinheiro a partir de sua vida sem lhe dar nenhuma parte dessa renda. Mas, na verdade, um livro como o meu acrescenta à lenda e provavelmente o ajuda a vender mais discos. Tenho certeza de que ele sabe disso. Afinal, a fama é um acordo com o diabo, não é?"


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