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Howard Sounes tenta desfazer "nuvem de desinformação e de mito" em torno de Dylan
O velho Bob
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Um privilégio e o sonho de
uma vida." Assim o escritor inglês
Howard Sounes descreve seu recém-lançado tomo sobre uma das
personalidades mais enigmáticas
e influentes da cultura do século
20. "Ouço a música de Bob Dylan
desde os 14 anos", conta o autor
em entrevista por e-mail. "Meu livro é motivado por uma profunda consideração por sua obra e
pela curiosidade sobre o homem
por trás dela."
"Dylan, mais do que muitas figuras públicas, viveu numa nuvem de desinformação e de mito,
boa parte deliberadamente criada
ou encorajada por ele", explica
Sounes. "Um astro misterioso
costuma desfrutar de mais longevidade do que uma celebridade
cuja vida está aberta ao público."
Biógrafo de outras personalidades públicas (como o casal de serial-killers inglês Fred e Rosemary
West e o escritor norte-americano Charles Bukowski), Sounes diz
procurar a verdade por trás do
glamour pop que as celebridades
acumulam com os anos, indo
além do que descreve como "anos
de jornalismo barato feito por revistas e biografias vagabundas
cheias de erros e suposições."
No caso de Dylan, mitômano de
si mesmo, o esforço foi dobrado.
"Tudo foi difícil", desabafa.
"Dylan se esforçou muito para
se tornar famoso e continuar assim por cinco décadas", continua
o biógrafo, "Ele é um compositor
sério, um artista fantástico e profundo. Mas também faz parte do
showbusiness, e, se você quer viver disso, tem que assumir um papel vulgar: se maquiar e usar roupas para o palco, se mostrar na
frente das pessoas, fazer entrevistas, posar para fotos. Dylan fez isso tudo com mais estilo que a
maioria, mas fez."
O impacto que o livro teve sobre
os fãs mais radicais do cantor foi
previsível, segundo o autor. "Muitos dos fãs mais obsessivos têm
uma crença ególatra de que conhecem tudo sobre Dylan e o entendem de uma forma mais especial que os outros. Um livro como
o meu pode contradizer o que eles
acham que sabem, por isso é uma
fonte de aborrecimento."
"Isso não importa, porque essas
pessoas não são o público-alvo do
livro, que mira nas pessoas simples, com um interesse ativo pela
cultura popular", desconversa.
E o próprio Dylan, o que achou?
"Eu não sei o que ele achou do livro ou do fato de que eu o estava
pesquisando", conta. "Conversei
com membros de sua família,
suas namoradas e seus antigos
empregados. Minha impressão é
que ele é desconfiado de pessoas
como eu e se aborrece com o fato
de que outros ganham dinheiro a
partir de sua vida sem lhe dar nenhuma parte dessa renda. Mas, na
verdade, um livro como o meu
acrescenta à lenda e provavelmente o ajuda a vender mais discos. Tenho certeza de que ele sabe
disso. Afinal, a fama é um acordo
com o diabo, não é?"
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