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RELÍQUIAS
Exposição na galeria Hospital, em Londres, apresenta cartazes, roupas e panfletos promocionais dos Sex Pistols
Mostra resgata símbolos da rebelião punk
LOURDES GÓMEZ
DO "PAÍS", EM LONDRES
"Punk: Uma História Real e Suja", a nova exposição da galeria
Hospital, de Londres, recolhe
roupas, cartazes e documentos
gráficos de promoção que fizeram
do grupo Sex Pistols o inimigo
número um do "establishment"
britânico e revolucionaram a estética e os movimentos culturais da
segunda metade dos anos 70.
Os símbolos do punk integraram com naturalidade a cultura
de massa. Para penetrar na história do punk, movimento nascido
em Nova York que atingiu maioridade em Londres, seria preciso
recorrer a "England's Dreaming",
o novo CD compilado pelo escritor britânico Jon Savage, genuíno
cronista do movimento.
Savage, que editou um livro
com o mesmo título, fornece a trilha sonora do período por meio
de 25 canções de cantores e bandas como Iggy & The Stooges,
Siouxsie and the Banshees, Patti
Smith, Devo, Buzzcocks etc.
Curiosamente, faltam os Sex
Pistols na compilação de Savage.
As canções da banda não precisam ser resgatadas do esquecimento. Continuam presentes no
imaginário social, ainda que sem
a carga explosiva causada um dia
por títulos como "God Save the
Queen" ou "Anarchy in the UK".
Mas os Sex Pistols foram determinantes na gestão e propagação da
imagem punk. E neles se concentra a exposição da sala Hospital,
um complexo audiovisual fundado dois anos atrás por Dave Stewart, guitarrista do Eurythmics, e
Paul Allen, bilionário co-fundador da Microsoft. Exposições sobre o movimento hip-hop e os fotógrafos Annie Leibovitz e Richard Young precederam a abertura dessa incursão ao punk, que
ocupará o espaço, em Covent
Garden, até 23 de janeiro.
A mostra reúne cerca de 70 artefatos e imagens da coleção particular de Andrew Wilson, atual
subdiretor da revista "Art
Monthly", e Paul Stolper, um comerciante de arte que representa,
entre outros artistas, Peter Saville,
autor de capas mitológicas do
Roxy Music e do Joy Division.
A dupla coleciona há mais de 15
anos recordações dos Sex Pistols,
entre as quais vários cartazes que
adornavam o quarto ocupado no
hotel Chelsea, em Nova York, por
Sid Vicious e sua noiva Nancy
Spungen. Um deles, utilizado na
promoção de "Never Mind the
Bollocks", título reproduzido em
letras grandes sobre fundo amarelo, ao lado de um logotipo do
grupo, traz manchas vermelhas
em sua parte inferior. São traços
de sangue do baixista, que usava o
cartaz para limpar a seringa, segundo os curadores da exposição.
A marca de Malcolm McLaren
está presente em cada um dos objetos. Empresário dos Sex Pistols,
McLaren não só funcionava como
hábil relações públicas mas, de
acordo com ambos os curadores,
"manipulava as relações culturais
entre arte, música, moda e desenho, ditando a imagem visual
punk e definindo suas atitudes".
Contava, nesse projeto, com a
ajuda de dois assistentes, a estilista Vivienne Westwood, com
quem montou as lojas Sex e Seditionaries, e Jamie Reid, o criador
da imagem gráfica dos Sex Pistols.
As letras do nome do grupo,
construídas como se formassem
uma mensagem anônima solicitando o pagamento de um resgate, fizeram escola.
A mostra contém amplo leque
de desenhos originais de Reid, excluídas as capas dos discos da
banda. É surpreendente o volume
de material promocional, panfletos entregues ao público e comunicados distribuídos à imprensa
preparados por McLaren para cada lançamento e turnê do grupo.
São imagens que contribuíram
fortemente para a censura sofrida
pelos Sex Pistols na época.
Tradução de Paulo Migliacci
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