São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RELÍQUIAS

Exposição na galeria Hospital, em Londres, apresenta cartazes, roupas e panfletos promocionais dos Sex Pistols

Mostra resgata símbolos da rebelião punk

LOURDES GÓMEZ
DO "PAÍS", EM LONDRES

"Punk: Uma História Real e Suja", a nova exposição da galeria Hospital, de Londres, recolhe roupas, cartazes e documentos gráficos de promoção que fizeram do grupo Sex Pistols o inimigo número um do "establishment" britânico e revolucionaram a estética e os movimentos culturais da segunda metade dos anos 70.
Os símbolos do punk integraram com naturalidade a cultura de massa. Para penetrar na história do punk, movimento nascido em Nova York que atingiu maioridade em Londres, seria preciso recorrer a "England's Dreaming", o novo CD compilado pelo escritor britânico Jon Savage, genuíno cronista do movimento.
Savage, que editou um livro com o mesmo título, fornece a trilha sonora do período por meio de 25 canções de cantores e bandas como Iggy & The Stooges, Siouxsie and the Banshees, Patti Smith, Devo, Buzzcocks etc.
Curiosamente, faltam os Sex Pistols na compilação de Savage. As canções da banda não precisam ser resgatadas do esquecimento. Continuam presentes no imaginário social, ainda que sem a carga explosiva causada um dia por títulos como "God Save the Queen" ou "Anarchy in the UK". Mas os Sex Pistols foram determinantes na gestão e propagação da imagem punk. E neles se concentra a exposição da sala Hospital, um complexo audiovisual fundado dois anos atrás por Dave Stewart, guitarrista do Eurythmics, e Paul Allen, bilionário co-fundador da Microsoft. Exposições sobre o movimento hip-hop e os fotógrafos Annie Leibovitz e Richard Young precederam a abertura dessa incursão ao punk, que ocupará o espaço, em Covent Garden, até 23 de janeiro.
A mostra reúne cerca de 70 artefatos e imagens da coleção particular de Andrew Wilson, atual subdiretor da revista "Art Monthly", e Paul Stolper, um comerciante de arte que representa, entre outros artistas, Peter Saville, autor de capas mitológicas do Roxy Music e do Joy Division.
A dupla coleciona há mais de 15 anos recordações dos Sex Pistols, entre as quais vários cartazes que adornavam o quarto ocupado no hotel Chelsea, em Nova York, por Sid Vicious e sua noiva Nancy Spungen. Um deles, utilizado na promoção de "Never Mind the Bollocks", título reproduzido em letras grandes sobre fundo amarelo, ao lado de um logotipo do grupo, traz manchas vermelhas em sua parte inferior. São traços de sangue do baixista, que usava o cartaz para limpar a seringa, segundo os curadores da exposição.
A marca de Malcolm McLaren está presente em cada um dos objetos. Empresário dos Sex Pistols, McLaren não só funcionava como hábil relações públicas mas, de acordo com ambos os curadores, "manipulava as relações culturais entre arte, música, moda e desenho, ditando a imagem visual punk e definindo suas atitudes". Contava, nesse projeto, com a ajuda de dois assistentes, a estilista Vivienne Westwood, com quem montou as lojas Sex e Seditionaries, e Jamie Reid, o criador da imagem gráfica dos Sex Pistols.
As letras do nome do grupo, construídas como se formassem uma mensagem anônima solicitando o pagamento de um resgate, fizeram escola.
A mostra contém amplo leque de desenhos originais de Reid, excluídas as capas dos discos da banda. É surpreendente o volume de material promocional, panfletos entregues ao público e comunicados distribuídos à imprensa preparados por McLaren para cada lançamento e turnê do grupo. São imagens que contribuíram fortemente para a censura sofrida pelos Sex Pistols na época.


Tradução de Paulo Migliacci


Texto Anterior: Música: Norah Jones, 25, se apresenta no Brasil em dezembro
Próximo Texto: Panorâmica - Música erudita: Osesp aceitará doações de pessoas físicas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.