São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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Peça com Marília Gabriela analisa mulher no poder

Monólogo escrito pelo angolano José Eduardo Agualusa mostra mulher prestes a assumir a presidência dos EUA

Inspiração foi candidatura de Hillary Clinton; montagem, que entra em cartaz hoje, marca estréia de Antonio Fagundes na direção


DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu não me queixo", diz uma mulher loira na faixa dos 60 anos que, envolvida num roupão, prepara-se para assumir a presidência dos EUA. Dali em diante, compartilhará impressões sobre o machismo na política, a traição do marido, o envelhecimento e a guerra. Opa, mas Barack Obama não reescreveu essa cena? José Eduardo Agualusa acha que não -pelo menos no teatro. Ele é autor de "Aquela Mulher", monólogo escrito para Marília Gabriela que estréia hoje e toma o argumento acima como ponto de partida.
"O fato de a realidade ter traído a ficção só contribuiu para ajudar esta. Como Hillary Clinton não é mais candidata, a peça ganha outro plano, simbólico. Hillary já não é Hillary, mas todas essas mulheres que lutam pelo poder", diz. "E o texto passa a ser uma discussão sobre se essa mudança [a eleição de mulheres para a presidência de vários países] implica uma alteração real na atuação no poder."
A dramaturgia cola passagens biográficas da senadora americana a frases recolhidas por Agualusa em conversas com Marília. Entusiasta de um governo Hillary ("para nós, mulheres, seria uma grande arrancada, um teste de fogo"), ela acha que a redefinição de papéis na política deixa "todo mundo confuso": "Os homens não sabem o que fazer com essa invasão, com este "ter de ceder espaço". Já as mulheres sempre tiveram referências masculinas, da literatura ao poder político: há o enigma de que exemplos seguir."

Senhora de si
Dirigida por um Antonio Fagundes estreante no posto, Marília faz sua quarta incursão no teatro. Na anterior, encarnou a personagem-título de "Senhora Macbeth", que saciava sua sede de poder por meio do marido. O que leva à inevitável pergunta sobre sua inclinação por figuras altivas.
"Eu sou grandona, falo assertivamente. A doce menina que existe dentro de mim, para se defender na cidade grande, virou uma senhora bastante agressiva. Sei me defender, sei me colocar. Acho bonito ser senhora de si", diz ela.
(LUCAS NEVES)

AQUELA MULHER
Quando: estréia hoje; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h; até 16/11
Onde: Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/3234-3000)
Quanto: R$ 20
Classificação: não indicado a menores de 14 anos



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