São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010 |
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CRÍTICA DOCUMENTÁRIO Mundo particular de Gould é tema de filme
Com música, fotos e entrevistas, documentário tenta desvendar pianista que abandonou carreira de concertista aos 30
SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA O documentário abre com Glenn Gould (1932-1982) tocando o arranjo de Liszt para a "Sinfonia Pastoral", de Beethoven. Imediatamente depois, ele é visto sozinho no campo, regendo o vazio. O característico toque "non legato" -com as notas articuladas, quase separadas- e a personalidade reclusa do pianista canadense tomam conta de "Glenn Gould: A Vida Interior" (2009), dirigido por Michèle Hozer e Peter Raymond, que a TV Cultura exibe hoje. Não é fácil compreender um músico que abandonou a carreira de concertista aos 30 anos para se concentrar apenas em gravações. O filme evoca o mundo de Gould com delicadeza e faz um belo trabalho com fotografias de rostos, dos quais somos aproximados e afastados a partir de diferentes ângulos, eixos e movimentos. Sua música percorre o documentário. Em uma divertida entrevista, ele toca de dois modos o tema do "Andante Grazioso" da "Sonata K331", de Mozart. A opção é por um andamento inicial lento, para "provocar alguma reação". Mas a velocidade aumenta a ponto de suplantar (e muito) a indicação do compositor: "É arbitrário, mas funciona", ele afirma. NEGAÇÃO DO TEMPO O musicólogo canadense Jean-Jacques Nattiez identifica em Gould uma busca utópica pela estrutura pura, sublinhada pela dedicação a Bach (1685-1750). Tal obsessão foi uma "negação perpétua da temporalidade", com a qual teve de lidar até o final. O aparente "triunfo de Orfeu sobre Cronos" pode estar na raiz do ódio às plateias e aos aplausos e na empolgação com as possibilidades estéticas da edição de "takes" gravados -a obra musical fora do tempo-, cuja correspondência com a montagem cinematográfica é evidente. Para falar de sua vida excêntrica e solitária, das manias, da hipocondria e dos amores, Hozer e Raymond recorreram a depoimentos de quem conviveu intensamente com ele. Entrevistaram o amigo John Roberts, o engenheiro de som Lorne Tulk e a artista plástica Cornelia Foss -que largou o marido (o compositor Lukas Foss) para viver quatro anos com Gould. Gould morreu alguns dias após completar 50 anos. Ao serviço religioso em sua homenagem, em Toronto, compareceram 3.000 pessoas. É como se somente aí tivesse realizado o concerto ideal: a gravação da "Ária" das "Variações Goldberg" preenchendo o silêncio, cada um em sintonia com o som de um pianista ausente que, finalmente, transcendeu o tempo. NA TV A Vida Interior de Glenn Gould Estreia do programa "Cultura Documentários" QUANDO hoje, às 23h30, na TV Cultura CLASSIFICAÇÃO não informada AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Programa busca exibir "retratos definitivos" Índice | Comunicar Erros |
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