São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Aura de mistério alavanca filme do grafiteiro Banksy sobre arte de rua

Documentário sobre artista britânico, que deixa dúvidas sobre sua identidade, está na Mostra de SP


"Exit through the Gift Shop" foi selecionado pelo Festival de Berlim; Banksy deixou de ir a encontro com imprensa


Divulgação
Intervenção artística é retratada em cena de "Exit through the Gift Shop"

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

Quando foi exibido no Festival de Berlim, em fevereiro, havia a esperança de que o documentário "Exit through the Gift Shop" (saída pela loja de presentes) fizesse com que Banksy revelasse a sua verdadeira identidade.
O grafiteiro britânico, que se recusa a aparecer, chegou a prometer uma entrevista coletiva apenas para desmarcá-la na última hora.
Em seu lugar, enviou um vídeo em que a sua voz distorcida anunciava: "É um bom filme, se você tiver bem pouca expectativa".
O documentário que Banksy "nunca quis fazer" acabou arrecadando quase US$ 4 milhões pelo mundo (cerca de R$ 6,6 milhões) e é atração da Mostra de SP, que começa na próxima sexta.
Além de não deixar pistas sobre a identidade do autor, o filme criou um mistério ainda maior sobre a veracidade da história que conta.
"Exit through the Gift Shop" começa com o grafiteiro fazendo elogios a si próprio. Ele explica que se esconde por trabalhar "em uma área legalmente cinza", mas se deixa seguir, com uma câmera, por um sujeito francês de nome Thierry Guetta.
Banksy tinha vontade de registrar sua arte de rua, essencialmente provisória. "Eu precisava confiar em alguém", afirma. "Tenho mantido tudo por baixo do pano por muito tempo."

LOUCO COM CÂMERA
O britânico achou que seria parte de um filme, mas não que o comandaria. Até que percebeu que "Thierry não era um cineasta. Era um louco com uma câmera. Filmava, filmava, nunca acabava". Guetta até tentou editar um longa, mas o resultado foi desastroso.
"E ele tinha todo esse material sobre "street art" e coisas que nunca mais seriam feitas." Foi aí que Banksy decidiu tomar o projeto para si. Transformou o material gravado pelo então amigo em um filme sobre a arte de rua. E continuou gravando.
Guetta, por sua vez, largou a câmera para logo encontrar um novo hobby. Inspirado pelos artistas que seguia, decidiu que ele mesmo poderia ser uma celebridade do mundo das obras "proibidas".
Sob o pseudônimo Mr. Brainwash, o francês se apropriou de obras alheias, usou o nome do amigo Banksy para se promover e virou o novo queridinho de Los Angeles -uma obra sua chegou a estampar a capa de um CD da Madonna, o disco "Celebration", de 2009.
O britânico pontua a história de Mr. Brainwash (sr. lavagem cerebral) com críticas a si mesmo, ao trabalho do outro e aos que caíram na farsa do artista que se inventou.
"Eu costumava encorajar todo mundo a fazer arte, achava que todos tinham de fazê-la. [Silêncio] Não faço mais tanto isso, ultimamente", ironiza Banksy no filme. O público, sem saber se ele fala sério, gargalha.
Como define o próprio autor do documentário, Mr. Brainwash "talvez seja um gênio, talvez tenha tido sorte, talvez seja uma piada". O filme não esclarece.

VERDADE OU CRIAÇÃO
A plateia fica sem saber se o novo artista é uma criação de Banksy, se concordou em ser ironizado nos cinemas em favor da fama ou se é alguém em busca de prestígio que se aproveitou do nome do britânico para atrair atenção -gerando a ira dele.
Especula-se até que Mr. Brainwash seja Banksy e que Guetta não exista.
Em um e-mail enviado ao "New York Times", o grafiteiro responde não saber por que tantas pessoas foram levadas a pensar que o filme é falso. "É uma história verdadeira, com imagens reais. Eu nunca poderia ter escrito um roteiro tão engraçado."


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