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OPINIÃO TROPA DE ELITE 2
Longa usa a lógica da guerra civil para discutir questão da segurança pública
Trama legitima violência policial e trata defesa dos direitos humanos como ladainha ingênua
VLADIMIR SAFATLE
ESPECIAL PARA A FOLHA
O diretor de "Tropa de Elite
2", José Padilha, é alguém
que costuma dizer não gostar
de filmes "cabeça".
No entanto, seu filme não
quer ser apenas mais um
thriller de aventura. Através
das ações do coronel Nascimento, "Tropa de Elite 2"
gostaria de dar sua versão a
respeito da irredutibilidade
do problema que mais atemoriza a classe média brasileira: a insegurança.
Nesta sequência, Nascimento vive um confronto intestino com um "intelectual
de esquerda"; militante dos
direitos humanos que, com
seu discurso ingênuo, parece
existir apenas para atrapalhar as ações duras, porém
necessárias, do Bope.
MOLA DO CRIME
Um destes confrontos acaba tendo muita repercussão
na mídia, o que leva o governo a deslocar Nascimento para uma subsecretaria de Segurança. Lá, ele descobre a
verdadeira mola que alimenta o crime: a corrupção da polícia e seus vínculos orgânicos com a corrupção do poder político.
Nesta nova luta, ele poderá, ao final, reencontrar seu
inimigo, tecer uma aliança
com o intelectual de esquerda, agora deputado estadual.
Aliança feita em nome da luta contra a corrupção do "sistema". Tudo termina em uma
CPI contra as milícias.
Assim, depois de ter sido
acusado pela imprensa internacional de fazer um filme
"fascista", o diretor de "Tropa de Elite 2" parece querer
se redimir mostrando ter
consciência clara dos problemas representados pela polícia. No entanto, tal consciência apenas mascara o verdadeiro núcleo de sua "visão da
sociedade brasileira".
TERRITÓRIO DE GUERRA
As ações violentas, as torturas sistemáticas contra
"vagabundos", a compreensão das favelas como território de guerra, as balas perdidas, a humilhação cotidiana
contra uma população que
vê o Estado e seu aparato policial como inimigos: nada
disso explicaria por que a polícia que mais mata no mundo nunca conseguiu vencer a
luta contra o crime.
Na verdade, se o método
truculento ainda não deu
certo, isto seria resultado exclusivo da corrupção generalizada. Tanto é assim que, em
dado momento do filme, ficamos sabendo que Nascimento conseguiu, com seu Bope
reforçado por helicópteros,
limpar uma favela do tráfico
em uma operação que mais
parece um video game onde
cada tiro certo é um ponto.
Tudo seria perfeito se, depois, policiais corruptos não
tivessem se aproveitado da
nova situação para extorquir
dinheiro da população.
Desta forma, neste país
onde a polícia tortura mais
do que na época do regime
militar, a ideia de compreender problemas de segurança
pública a partir da lógica de
guerra civil parece ter se naturalizado.
Neste país, os intelectuais
de esquerda ganhariam mais
complacência dos produtores de blockbusters se abandonassem a "ladainha" sobre direitos humanos, escolhessem o lado da classe média assustada e abraçassem a
causa monocórdia da luta
moralizante contra a corrupção estatal.
Ao menos, eles serviriam
para apagar a culpa pelo nosso desejo de violência.
Vladimir Safatle é professor no
departamento de filosofia da USP
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