CRÍTICO DA FOLHA

Menos de 30 pessoas foram ao auditório do Sesc Vila Mariana na sexta-feira passada, para apreciar "Fragmentos Kafka", obra do húngaro György Kurtág apresentada no 45º Festival Música Nova, que segue até o dia 29/10, em São Paulo e em Santos.
"Fragmentos" é a obra-prima de um dos maiores compositores vivos e contou com performance brilhante da cantora argentina Lia Ferenese e do violinista mexicano Cuauhtémoc Rivera.
Ao contrario do que seria usual, entretanto, o programa impresso não traz detalhes sobre autor e obra. Kurtág nasceu em 1926 e estudou em Budapeste e Paris. Sua obra orquestral mais importante talvez seja "Grabstein für Stephan", gravada pela Filarmônica de Berlim no final dos anos 90.
"Fragmentos Kafka" foi composta em 1985-1986 a partir de diários e cartas do escritor tcheco. São 40 pequenos textos em alemão, trechos que não seguem nenhuma lógica narrativa.
O violino ora anuncia, ora ecoa, ora segue seu rumo independente da voz. Em outros momentos, é ela que complementa lacunas deixadas por ele. Perto do final, no "Fragmento 38", esse processo atinge uníssonos calculados -perfeitos na emissão sofisticada do duo.
Da sucessão epigramática emana uma beleza triste e a espacialidade cênica é utilizada de forma discreta, tão somente para acentuar o estranhamento.
Em uma temporada em que espetáculos de música contemporânea têm tido casa cheia em São Paulo, não cabe atribuir o pequeno público apenas a um suposto desinteresse.
No domingo passado, uma outra atração do Festival Música Nova foi apresentada em um Auditório Ibirapuera praticamente vazio.
Enquanto isso, a poucos metros dali, a fila dava várias voltas para a entrada na 29ª Bienal de Artes.
(SIDNEY MOLINA)

FRAGMENTOS KAFKA

AVALIAÇÃO ótimo


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