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MÚSICA
"Soul Deep" revela alma da música negra
DA REPORTAGEM LOCAL
A memória da música negra
americana vai ganhar um espaço
nobre no canal Film&Arts, a partir das 22h de hoje. A série "Soul
Deep", da BBC, começa a ser exibida e vira um excelente convite
para mergulhar num dos mais ricos universos pop.
Fartamente recheado com imagens de época e depoimentos recentes, o primeiro episódio, "O
Nascimento do Soul", já dá uma
boa idéia do que há de vir. Um espetáculo didático e inspirador.
Não há grandes inovações na
forma de contar, é verdade. Tudo
começa nos anos 30, contextualizando o momento que os afro-americanos viviam: segregados,
divertindo-se com intensidade,
mas sob extremas restrições.
E aí surge a figura de Ray Charles, com aquela história que ficou
bastante conhecida após o sucesso cinematográfico de "Ray". O
garoto cego, apaixonado por piano, que batalha por um lugar na
música negra até inventar algo extremamente único dentro do
rhythm'n'blues -que chegou a
ser catalogado como "race music"
(música de raça)-, cuja raiz se
acha no saxofonista Louis Jordan
e seus Tympany Five.
O documentário traz declarações deliciosas de Ray Charles sobre o impacto dessa música em
sua vida. Aliás, uma das características dos artistas desse momento é que jamais falam da música
como algo distante, jamais lançam um olhar "científico".
Essa paixão que se revela em cada depoimento de um James
Brown ou de uma Etta James é o
que torna a série ainda mais interessante. Uma pena que aquele
velho problema de legendagem
preguiçosa atrapalhe um pouco.
Ao falar da espetacular "Miss
Rhythm" Ruthie Brown, Etta James afirma, claramente, que a
cantora queria em sua performance "algo de Carmen Miranda". E o telespectador lê apenas
"algo de bailarina", só para citar o
exemplo mais gritante.
Um pouco mais de capricho
não faria mal a uma série tão bem
executada. Mas ainda vale ver.
(MÁRVIO DOS ANJOS)
Soul Deep
Quando: hoje, às 22h, no Film&Arts
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