São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Exposição traz tesouros de civilização peruana

Pinacoteca exibe 214 objetos da civilização mochica, pré-inca, achados em 1987

Mostra inclui réplica do túmulo do Senhor do Sipán, que foi enterrado com outras oito pessoas e três animais, num suicídio ritual


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele só tinha um 1,59 metro de altura e morreu relativamente cedo, com entre 45 e 55 anos de idade. Mas levou para a vida após a morte a prova de que era um senhor poderoso. O Senhor de Sipán, um potentado da civilização mochica, de nome desconhecido, foi enterrado em uma tumba no Peru com outras oito pessoas, possíveis vítimas de um suicídio ritual, mais ou menos voluntário. São três mulheres jovens, dois homens de sua corte, um soldado, um vigia e uma criança. Além de duas lhamas e um cachorro.
A réplica do túmulo está na exposição que abre hoje na Pinacoteca do Estado de SP.
Também estão ali, pela primeira vez na América Latina, parte das jóias que ele levou consigo para o além, peças de ouro e prata, muitas com engastes de turquesa, consideradas um dos maiores tesouros arqueológicos achados nas Américas.
A tumba media cerca de cinco metros de comprimento por cinco metros de largura. Também havia uma grande quantidade de peças de cerâmica e comida, como peixe, carne, e cerveja de milho. "Para os mochicas, o ouro era o suor do Sol; e a prata era feita das lágrimas da Lua, uma imagem muito poética", diz o arqueólogo peruano Walter Alva, curador da mostra, responsável pela gestão do Museo Tumbas Reales de Sipán e líder da equipe que escavou o sítio de Sipán.
Apenas a elite poderia usar jóias desses metais preciosos, e porque cada peça era intimamente vinculada a apenas uma pessoa, era enterrada com ela -para sorte dos arqueólogos, mas também dos ladrões de tumba. Entre as peças mais espetaculares estão grandes "orelheiras" redondas de ouro e turquesa, uma das quais representa o próprio Senhor.
Foi graças a uma repentina "corrida do ouro" em Sipán, no vale do rio Lambayeque, que o sítio foi descoberto. A polícia recuperou parte do saque feito nas duas pirâmides truncadas da região. Arqueólogos escavaram o sítio de 1987 a 1999, estudando 13 tumbas. "Os mochicas tinham uma típica cultura de oásis, viviam em uma região onde não chove.
Eles criaram técnicas para captar o degelo dos Andes", diz Alva. Para ele, o "verdadeiro tesouro" das tumbas "é a extraordinária informação histórica de um povo que soube vencer o deserto para criar alta cultura".
A cultura mochica floresceu entre os séculos 1 e 7 da era cristã, cerca de mil anos antes que a região fosse incorporada ao império inca, popularmente bem mais conhecido.
Cerca de 35% do acervo do museu de Sipán está exposto na Pinacoteca, além de peças provenientes do Museu Nacional de Arqueologia, Antropologia e História do Peru, de Lima, e de uma coleção particular brasileira notavelmente rica.
A maior parte dos 214 objetos em exposição é constituída por cerâmica, de uma variedade que mostra como a cultura havia se desenvolvido. "Os mochicas investiam mais recursos na construção e na manutenção de templos que em qualquer outra infra-estrutura", afirma o pesquisador Luis Jaime Castillo Buttera, da Pontifícia Universidade Católica do Peru, em artigo no catálogo da mostra.


TESOUROS DO SENHOR DE SIPÁN
Onde:
Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h. Até 7/1.
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)


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