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Exposição traz tesouros de civilização peruana
Pinacoteca exibe 214 objetos da civilização mochica, pré-inca, achados em 1987
Mostra inclui réplica do túmulo do Senhor do Sipán, que foi enterrado com outras oito pessoas e três animais, num suicídio ritual
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele só tinha um 1,59 metro de
altura e morreu relativamente
cedo, com entre 45 e 55 anos de
idade. Mas levou para a vida
após a morte a prova de que era
um senhor poderoso. O Senhor
de Sipán, um potentado da civilização mochica, de nome desconhecido, foi enterrado em
uma tumba no Peru com outras
oito pessoas, possíveis vítimas
de um suicídio ritual, mais ou
menos voluntário. São três mulheres jovens, dois homens de
sua corte, um soldado, um vigia
e uma criança. Além de duas
lhamas e um cachorro.
A réplica do túmulo está na
exposição que abre hoje na Pinacoteca do Estado de SP.
Também estão ali, pela primeira vez na América Latina, parte
das jóias que ele levou consigo
para o além, peças de ouro e
prata, muitas com engastes de
turquesa, consideradas um dos
maiores tesouros arqueológicos achados nas Américas.
A tumba media cerca de cinco metros de comprimento por
cinco metros de largura. Também havia uma grande quantidade de peças de cerâmica e comida, como peixe, carne, e cerveja de milho. "Para os mochicas, o ouro era o suor do Sol; e a
prata era feita das lágrimas da
Lua, uma imagem muito poética", diz o arqueólogo peruano
Walter Alva, curador da mostra, responsável pela gestão do
Museo Tumbas Reales de Sipán
e líder da equipe que escavou o
sítio de Sipán.
Apenas a elite poderia usar
jóias desses metais preciosos, e
porque cada peça era intimamente vinculada a apenas uma
pessoa, era enterrada com ela
-para sorte dos arqueólogos,
mas também dos ladrões de
tumba. Entre as peças mais espetaculares estão grandes "orelheiras" redondas de ouro e turquesa, uma das quais representa o próprio Senhor.
Foi graças a uma repentina
"corrida do ouro" em Sipán, no
vale do rio Lambayeque, que o
sítio foi descoberto. A polícia
recuperou parte do saque feito
nas duas pirâmides truncadas
da região. Arqueólogos escavaram o sítio de 1987 a 1999, estudando 13 tumbas.
"Os mochicas tinham uma típica cultura de oásis, viviam em
uma região onde não chove.
Eles criaram técnicas para captar o degelo dos Andes", diz Alva. Para ele, o "verdadeiro tesouro" das tumbas "é a extraordinária informação histórica de
um povo que soube vencer o
deserto para criar alta cultura".
A cultura mochica floresceu
entre os séculos 1 e 7 da era cristã, cerca de mil anos antes que a
região fosse incorporada ao império inca, popularmente bem
mais conhecido.
Cerca de 35% do acervo do
museu de Sipán está exposto na
Pinacoteca, além de peças provenientes do Museu Nacional
de Arqueologia, Antropologia e
História do Peru, de Lima, e de
uma coleção particular brasileira notavelmente rica.
A maior parte dos 214 objetos
em exposição é constituída por
cerâmica, de uma variedade
que mostra como a cultura havia se desenvolvido. "Os mochicas investiam mais recursos na
construção e na manutenção
de templos que em qualquer
outra infra-estrutura", afirma o
pesquisador Luis Jaime Castillo Buttera, da Pontifícia Universidade Católica do Peru, em
artigo no catálogo da mostra.
TESOUROS DO SENHOR DE SIPÁN
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da
Luz, 2, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às
18h. Até 7/1.
Quanto: R$ 4 (grátis aos sábados)
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