São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Marlene Bergamo/Folha Imagem
A apresentadora, na sacada de seu apartamento, no Morumbi


Hoje é dia de (Ana) Maria

Aos 58 anos, a apresentadora lança livro de auto-ajuda, que pode curar desde gripe até violência, e diz que o "Cansei" foi distorcido

"Não. Hoje não. Eu não quero pudim de couve-flor. Eu quero... hum... fondue de verão!", anuncia Ana Maria Braga, com a pauta do programa "Mais Você" em mãos, às nove da manhã.
"Vai, vai! Corre! Chama o pessoal da produção pra enrolar os croquetes! Ela não quer mais pudim! Quer fondue! Agora!", grita a chefe da cozinha do programa, Maria Helena, nos bastidores. Desde que apresentadora começou a perder audiência para a Record, a direção da TV Globo passou a interferir mais no conteúdo. Nesta semana, veio uma ordem da emissora no Rio para que investissem em cardápios brasileiros, como forma de se aproximar do espectador e aumentar o Ibope.

 

Parte da equipe atravessa a rua e vai ao mercado em frente aos estúdios da Globo, em SP, para comprar os ingredientes da receita inesperada. Meia hora depois, o fondue de verão deve estar pronto para ir ao ar. E estará. "Sempre consigo o que quero", diz a apresentadora. A receita -não de fondue, mas para conseguir o que se quer- está no novo livro de Ana. Sim, ela escreveu um livro, uma espécie de guia de auto-ajuda aos moldes do best-seller "A Lei da Atração" (escrito por Michael Losier). "O Segredo por Ana Maria Braga" será lançado amanhã pela editora Nova Fronteira. Além do livro, ela gravou um CD. A primeira lição: "Saiba pedir".
 

"Acorda, menina! Acorda, menino! Você sabe o que quer? Por que será que somos assim? Talvez porque é mais fácil falar o que não queremos. (...) Difícil isso de saber o que quer! Mas a gente é assim mesmo", escreve.
 

São dez da manhã e Ana está na avenida em frente à Globo.
Vai gravar a abertura do programa de sexta-feira -o único dia em que o "Mais Você" não é ao vivo. Ônibus passam e, com a cabeça para fora, os passageiros gritam: "Ô, Anaaaaa!" "Acorda, menina, vem cá!", diz, olhando para a câmera e dirigindo-se ao público. "Sabe qual é o sintoma da meia-idade, Louro José? É quando você sente uma vontade, mas não sabe exatamente de quê e, num jantar à luz de velas, você não enxerga o cardápio! Hahahaha!" A piada acaba quando um helicóptero da emissora vai subir e o barulho impede a gravação. Debaixo de um guarda-sol, Ana é obrigada a voltar para o estúdio. É como escreve ela, na segunda lição de seu livro: "Às vezes, nosso dia é difícil, doloroso, enfrentamos dificuldade". Mas, de acordo com sua filosofia, "a gente tem que lembrar, rever os nossos pedidos todos os dias e repeti-los em voz alta, acrescentando: "eu posso", "eu mereço", "eu conheço a minha força positiva e vou ter ou fazer isso'".
 

Ana entra no camarim: "Ela tem pele de mulher de 25!", diz o maquiador Plínio Peloso. Usa base Dior, pó M.A.C e sombra Chanel. "É a mulher mais fácil que tem pra maquiar!" Ela deixa o camarim e Belinha, sua poodle de quatro anos, sai correndo para acompanhá-la numa sessão de fotos da revista "Dieta Já".
 

"A Lei da Atração é a capacidade que temos de, com nossos pensamentos, e nossas emoções, criar a realidade em que vivemos", explica Ana no livro.
Ela diz à coluna que a lei também se aplica a problemas sociais, como a violência. "Claro. É igual gripe!"
E continua: "Tem gente que fala assim "Ai, eu vou ficar gripado" porque passa uma pessoa lá na esquina com gripe. Pode saber que vai ficar gripado mesmo. Você informa o seu organismo que vai ficar gripado. Você traz pra você. A mesma coisa com a violência. Eu não acredito, eu não vou ser assaltada. Eu não tenho medo. Não saio de casa assim: "Ai, meu Deus, eu vou ser assaltado!'".
 

"O caso do Luciano [Huck], por exemplo. Acho isso uma coisa tão idiota. Não a atitude dele, mas a forma como as pessoas encararam o assunto. Não acho que a pessoa, porque usa um Rolex, tem direito de ser roubado. Ele ficou indignado pelo fato de as pessoas terem que roubar pra poder sustentar um vício, pra poder... Quer dizer, que sociedade é esta? Não que ele não soubesse antes que existe violência. Mas acho que ficou indignado de ter sido parte dessa coisa."
 

"Estamos todos indignados, cansados", continua. O "cansaço" de Ana a levou para o movimento "Cansei", de protesto contra a corrupção, o caos aéreo, entre outros. E, agora, será que ela cansou do "Cansei"? "Não, não que a gente tenha cansado do "Cansei". Na verdade, o sentimento existe. Quando você vê o Renan [Calheiros] lá no Senado, é puta que pariu!
Dá indignação! Mas o "Cansei" foi entendido de forma tão distorcida... E eu nunca fui a uma reunião, o "Cansei" nunca teve uma sede. Enfim, só resolvemos falar que cansamos. E cansamos mesmo, ué."
 

Às 17h50, Ana já está em casa -ela mora nos três últimos andares de um prédio no parque Burle Marx, no Morumbi. Fará uma festa surpresa para a filha mais velha, Mariana, 25 anos. "Oi, amor. Tudo bom, paixão?", diz, ao celular, para o marido Marcelo Frisoni, enquanto mostra a preparação na cozinha. Ela tem duas, aliás: uma para a empregada, onde será preparado o bufê árabe para a filha e onde são feitas as comidas do dia-a-dia; e outra só sua, para cozinhar para os amigos- com piscina, TV de plasma e teto de vidro retrátil.
 

"Minha nega, cheguei a SP com a famosa "uma mão na frente, a outra atrás" e sem ninguém pra pedir nada. Ninguém nunca me deu nada na minha vida. Nunca ganhei um carro de ninguém. De ninguém! Jóia, eu nunca ganhei de ninguém. Ganhei presente, claro. Mas fui buscar as coisas porque acreditava que podia fazer."
 
É, como escreve, o último passo da "atração": "Você não tem tal coisa, ou não faz tal coisa porque não acredita que pode ter ou realizar seu desejo. (...) Acorda, menina! Acorda, menino! A vida está do nosso lado. O mundo está do nosso lado. (...) Cada um de nós é especial e diferente. Somos iguais em apenas uma coisa: em nossa força transformadora".

Reportagem AUDREY FURLANETO

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