São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hanif Kureishi investiga drama familiar cujo cenário é a geração que viveu os anos 70

JOGO DE IDENTIDADES

Toni Garriga - 29.mai.2002/France Presse
O britânico Hanif Kureishi, que lança "O Dom de Gabriel" no Brasil


SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

Era uma vez um garoto do subúrbio que sonhava com a fervilhante vida cultural da Londres dos anos 60. Ele cresceu e fez do confronto cultural de filhos de imigrantes asiáticos com a sociedade britânica um dos principais temas de sua literatura. Hoje, após conquistar a capital de seus sonhos, Hanif Kureishi, 48, lança sua atenção para os conflitos familiares, sem esquecer o cenário social e político da época em que sua literatura foi gestada.
"O Dom de Gabriel", livro que lança agora no Brasil, é uma espécie de continuação de "Intimidade" (2000). Naquele polêmico romance, acusado de ser extremamente cruel, Kureishi abordava o fim de um casamento e a destruição de uma família a partir do ponto de vista masculino.
Em "O Dom de Gabriel", a família que Kureishi observa já foi destruída, pela morte de uma criança e pela separação dos pais. Gabriel, o filho adolescente, tenta reunir o casal novamente. Para isso, conta com alguns poderes mágicos, faz desenhos que se materializam em objetos de verdade e escuta conselhos de um irmão gêmeo morto.
A relação de Gabriel com o pai é de admiração -o velho é ex-roqueiro de uma banda famosa-, mas também de superioridade. Hoje, o genitor, que sofreu um acidente em pleno palco e nunca mais pôde voltar a tocar, não passa de um homem frustrado, sem dinheiro, que vive da nostalgia do agito londrino dos anos 60/70.
Filho de pai indiano de ascendência paquistanesa e mãe inglesa, Kureishi formou-se em filosofia no King's College. Celebrizou-se pelos romances "Minha Adorável Lavanderia", que ganhou versão cinematográfica dirigida por Stephen Frears em 1985, e "O Buda do Subúrbio" (1990), que venceu o prêmio Whitbread e logo também foi vertido às telas.
Nos livros de Kureishi, a cultura do submundo inglês mistura-se ao olhar dos imigrantes asiáticos. Com várias referências pop, o autor trata de racismo, desemprego e sexo e faz críticas ao pós-colonialismo britânico. Nesse cenário, seus personagens buscam e questionam suas identidades. "As identidades me interessam por estarem por trás de tudo, das famílias e dos países", diz.
Recentemente, seu "Intimidade" também virou filme, numa adaptação livre do romance dirigida por Patrice Chéreau. Foi premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2001.
Apesar de trabalhar hoje mais com cinema e literatura, Kureishi começou no teatro. Em 1976, estreou sua primeira peça, "Soaking the Heat", e, em 82, foi escritor-residente do Royal Court londrino.
"O Dom de Gabriel" foi lançado originalmente em inglês há um ano. Infelizmente, só agora chega ao Brasil. No Reino Unido, o escritor acaba de lançar outro livro, a coletânea de histórias "The Body", e acompanha as filmagens de um novo filme com roteiro seu, "The Mother", dirigido por Roger Michell -o mesmo que adaptou "O Buda do Subúrbio-, que será lançado logo depois do Festival de Cannes de 2003.


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Ícones ambíguos servem de espelho
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.