|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Peça aponta para outra margem"
DA REPORTAGEM LOCAL
Após três anos de processo, que incluiu uma expedição
por Brasília e Acre, além de residência na zona norte de São Paulo, o Teatro da Vertigem conclui hoje
os ensaios abertos de "BR3".
O diretor Antônio Araújo diz
que o grupo tentou, em vão, se esquivar do tema do sagrado, dominante na chamada trilogia bíblica
composta pelas peças "O Paraíso
Perdido" (1992), "O Livro de Jó"
(1995) e "Apocalipse 1,11" (2000).
A previsão de estréia é 10 de fevereiro. Desde o início, a produção coordenada por Walter Gentil
depara-se com falta de recursos. A
logística no rio é mais complexa
que a dos espetáculos encenados
em cadeias, hospitais ou igrejas.
A seguir, trechos da entrevista
com Araújo.
Folha - O rio é o seu "primeiro-ator"?
Antônio Araújo - Às vezes é prima-dona, às vezes é protagonista,
em outras faz papel de vilão. Algumas vezes rouba a cena, enquanto em outras serve de escada, literalmente. Como pô-lo
no foco, dar-lhe voz e réplica, sem
maquiá-lo? Só espero não ter cometido um erro de casting...
Folha - É um espetáculo que não
se filia ao que o grupo chamou de
trilogia bíblica ou está mais para a
tetralogia? Em que medida o sagrado é revisitado?
Araújo - Ironicamente, cumprimos a sina do personagem Jonas
[da peça e da Bíblia]: quisemos fugir da temática religiosa, sagrada,
mas fomos engolidos novamente
por essa "baleia"... Em uma certa
medida, o "BR3" completa uma
"tetralogia bíblica"; em outra,
contudo, aponta para um novo
porto, uma outra margem, um
outro mergulho -ou será naufrágio? Ainda estamos em processo de criação. É difícil afirmar algo
em bases tão movediças.
Folha - Antes do projeto, como
era sua relação com o rio?
Araújo -Era uma não-relação
com um não-rio.
Texto Anterior: Teatro: Rio Tietê é o "primeiro-ator" em "BR3" Próximo Texto: "Grupo cria em meio a podridão" Índice
|