São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Cidade das ilusões

Atrás de patrocínio, cineastas dão um jeito de colocar Paulínia em roteiros; cenários e figurantes pulam de um filme a outro

Rodrigo Capote/Folha Imagem
Arlindo Minucci, Elias de Almeida e Edson Scofield

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA

Edson Scofield, 53, crê, desde menino, na máxima de que um nome é um destino. E o que poderia soar mais cinematográfico que Scofield? "É nome de ator, né? Tem gente que acha até que inventei", diz, espantado com a própria sorte. Pode ter demorado, mas não é que seu nome chegou ao cinema?
Scofield participou, nos últimos dois anos, de oito longas-metragens. Todos feitos em Paulínia, cidade de 70 mil habitantes, no interior paulista, que resolveu aplicar o dinheiro do petróleo em cinema. E se Scofield e outra centena de moradores foram parar na tela é porque, entre as exigências para o patrocínio, está o uso de figuração local. "Tá ficando todo mundo famoso", aposta Arlindo Minucci, 66 anos, sete filmes, nenhuma fala e um beijo de Deborah Secco como troféu.
Os feitos dos novos astros parecem se espalhar pela região. Se, de início, só os mais saidinhos tentavam uma vaga nos filmes, agora as fotos e currículos chegam aos montes.
"Não tem dia em que não apareça alguém novo", diz Vanilda Leite, que entrou no serviço público como faxineira e, hoje, faz a seleção dos figurantes no chamado polo de Paulínia. "Quando cheguei, não sabia nada, mas agora parece que entendo de cinema desde que nasci", diz, deixando a mineirice de lado. "Salve Geral", conta ela, usou 850 figurantes. "Topografia de um Desnudo", ainda inédito, cerca de 200.
Em meio a tanta gente, encontrar-se na tela é, não raro, um jogo de "Onde Está Wally?". Elias Barreiras aprendeu um jeito de salvar o próprio rosto. "Tem que ficar bem natural e criar algum detalhe que chame a atenção, como pegar uma moeda no chão", ensina. "No filme da Bruna Surfistinha ["Doce Veneno"], criei uma fala e o diretor deixou passar."
Scofield também já conseguiu um diálogo, como o dentista de "Jean Charles". Teve, por outro lado, a decepção de ver sua cena cortada em "Hotel Atlântico". Ouviu dizer que tampouco aparece na versão final de "É Proibido Fumar".
Enquanto para Scofield ser ator remete ao sonho de infância, para Minucci tudo ganha ares de uma grande farra. "Fui passageiro de um barco em "Doze Estrelas", passageiro de ônibus em "Doce Veneno", mas ganhei um beijo da Deborah Secco. Quer mais que isso?"


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