São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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Fazenda e parque são as locações mais repetidas

Em novo filme, Rodrigo Santoro sai de Roma e vai parar em Paulínia; referência à cidade contou pontos em edital

Prefeitura coloca imposto do petróleo em 20 filmes por ano; secretário diz que produtores têm o "desafio artístico" de não se repetir


DA ENVIADA A PAULÍNIA

Se você assistiu a "Quanto Dura o Amor", de Roberto Moreira, "Hotel Atlântico", de Suzana Amaral, e "Jean Charles", de Henrique Goldman, e, filme após o outro, foi ficando com uma sensação de déjà-vu, não se espante. Nada há de freudiano nisso. Você, de fato, já tinha visto aqueles lugares em alguma outra situação.
Nos três filmes, lançados neste ano nos cinemas, pedaços de Paulínia se revelam em diferentes cenas. Há as estradas de acesso à cidade, as imagens do centro, a pequena praça que remete ao interior, o concreto com cara de novo.
E esse é só o começo da história. Nos últimos oito meses, dez filmes foram rodados na cidade. Muitos chegarão ao cinema no ano que vem. Com eles, virá o cruzamento de locações.
A praça São José, da qual saiu o ônibus que tira Jean Charles da cidade, é a mesma do parque de diversões de "Cabeça a Prêmio", de Marco Ricca, exibido apenas em festivais. No bairro João Aranha, onde o diretor Sergio Rezende recriou, numa antiga fábrica de embalagens, o Carandiru de "Salve Geral", Luiz Villaça montou o circo de "O Contador de Histórias".
Pertinho do prédio da Justiça do Trabalho, na avenida José Paulino, transformado em delegacia incendiada em "Salve Geral", fica o "Vintão", casa onde Bruna Surfistinha, personagem de "Doce Veneno", que acaba de ser rodado, fazia programas.

Pontuação caseira
"É engraçado ver isso, mas agora os diretores têm o desafio artístico de fugir dos lugares-comuns", diz, sem perder o trocadilho, o secretário de Cultura da cidade, Emerson Alves. "Na semana passada, o Selton Mello esteve aqui. Ele vai usar [em "Filme de Estrada'] a mesma locação que "Chico Xavier" e "Corações Sujos". No começo, faziam muita interna, mas agora estão mostrando a cidade."
De olho na corrida de produtores pela verba, a prefeitura criou até uma nova escala de pontos no último edital, que distribuirá R$ 9 milhões entre 20 produções. Quem filma mais de 80% da cidade obtém maior pontuação. Também contam a favor o tempo de permanência, os gastos locais e o elenco de apoio.
Uma ideia que caiu nas graças dos responsáveis pelo polo cinematográfico, por exemplo, foi aquela apresentada pelos produtores de "Meu País" [leia texto ao lado]. A história tinha como eixo as cidades de Roma e São Paulo e incluía também uma cidade do interior. "Quando saiu o edital, pensamos: "Por que não fazer com que essa cidade seja Paulínia?". Se encaixava perfeitamente no filme", diz o produtor Caio Gullane. E assim o personagem de Rodrigo Santoro, que mora em Roma, chega a Paulínia.

Quebra-cabeça
As tentativas de encaixar a cidade nos roteiros nem sempre são simples. Que o diga José Carlos Gombrade, o Zinho, funcionário da secretaria de Cultura, encarregado de ajudar os produtores a encontrar locações. "O pessoal do "Lula" queria bairro com rua de terra. Falei: "Não tem". Também não tem jeito de arrumar cachoeira e coisa histórica."
Zinho suou para conseguir as locações de "Corações Sujos", baseado no livro homônimo de Fernando Moraes. "Como é filme de época, e a cidade é moderna, fica meio difícil", diz. "Mas, geralmente, quando leio o roteiro, já crio o filme na minha mente. E acerto, viu? O Selton Mello queria um barzinho de beira de estrada. Logo veio um. Tô com o mapa da cidade desenhadinho na cabeça."
(ANA PAULA SOUSA)


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