São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

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THIAGO NEY

O valor do amanhã (no pop)

Há bandas, como The La's, que gastam a energia na juventude, enquanto artistas como R.E.M. andam devagar

NO LIVRO "O Valor do Amanhã", Eduardo Giannetti analisa os juros não apenas do ponto de vista econômico mas como um fenômeno intrinsecamente presente na natureza.
Os juros são "parte da ordem natural das coisas": do envelhecimento celular, da reprodução de vários animais, do metabolismo vegetal, das decisões impulsivas que tomamos em nossa juventude. Viver agora e pagar depois ou pagar agora e viver depois -é uma questão com que convivemos no dia-a-dia.
Neil Young mostrou do lado em que estava com "It's better to burn out than to fade away" (é melhor queimar agora do que desaparecer aos poucos"), de "My My, Hey Hey".
Essa parece também ter sido a escolha de Lee Mavers, o líder e vocalista do mitológico The La's, que alguns classificam como "o melhor grupo a ter saído de Liverpool"...
Mavers e sua banda investiram talvez todo o talento que possuíam no primeiro disco, homônimo, lançado em 1990. O álbum tem o hit "There She Goes", mas, mais do que isso, canções pop primorosas como "Timeless Melody", "Son of a Gun", "Feelin", "I Can't Sleep Tonight"... Ganhou fãs como Morrissey e Noel Gallagher e Eddie Vedder.
Mas, perfeccionista, paranóico, Mavers autoexilou-se da música pop. Ele tinha trocado o futuro pelo presente e nunca mais gravou nada com o La's. Tornou-se cult.
Além do La's, Sex Pistols e Stone Roses são bandas que preferiram usufruir o agora.
Do outro lado, há uma banda como o R.E.M., cuja trajetória de mais de duas décadas mostra uma banda que busca caminhar passo a passo.
Retrospectivamente, seus discos do início dos anos 80, como "Murmur", "Fables of the Reconstruction" e "Lifes Rich Pageant", funcionam como indícios do que o grupo pretende buscar.
Essa meta seria atingida já na maturidade, com os ótimos "Automatic for the People", "Monster" e "Up". Outra banda que preferiu economizar para gastar depois foi o Pulp.
A banda de Jarvis Cocker passou totalmente despercebida pelos anos 80 -foi formada em 1978!
Apenas com "His and Hers", de 1994, o Pulp finalmente alcançou o brilho que procurava. O disco seguinte, "Different Class" (1995), prova que o auge demorou a chegar.


thiago@folhasp.com.br

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