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Cinema
"Azur e Asmar" revê status do imigrante
Michel Ocelot, autor de "Kiriku e a Feiticeira", diz que buscou colocar o espectador na mesma situação dos personagens
Ao vetar a tradução dos trechos falados em árabe, cineasta sustou venda do filme à Alemanha, para não "menosprezar" o público
DA REPORTAGEM LOCAL
Por vontade de ser "um pouco insolente e um pouco elegante", o cineasta francês Michel Ocelot determinou que
não deveriam ser nem traduzidos nem dublados os trechos
falados em árabe em sua animação "As Aventuras de Azur e
Asmar", que estréia hoje.
"É um filme sobre ser ou não
ser imigrante. Boa parte dos
problemas do imigrante vem
do que ele não compreende.
Quis colocar o espectador nessa situação", afirma o diretor.
Além de proporcionar a identificação do público ora com
Azur ora com Asmar -garotos
que cruzam alternadamente o
oceano, tornando-se imigrantes em momentos distintos-, a
escolha do árabe por Ocelot
tem também a função de "celebrar a civilização muçulmana,
que passou por essa língua".
Na Alemanha, ofereceram
uma boa soma de dinheiro pelo
filme, desde que ele pudesse ser
todo traduzido. Ocelot disse
que "foi duro, mas disse não". A
justificativa: "Para mim, isso é
mau comércio. Se meus filmes
tentam dar dignidade às pessoas e se acredito nisso, não
posso menosprezar o público".
A autonomia de Ocelot, porém, tem muito a ver com o notável sucesso comercial de seus
filmes. "Kiriku e a Feiticeira"
(98) foi um um êxito tão grande
nas salas que virou franquia.
Acaba de ser aberta em Paris
uma loja temática Kiriku.
Sem abandonar Kiriku, Ocelot começou a preparar "Azur e
Asmar" em 2001. Quando o
WTC ruiu, no 11 de Setembro, o
diretor estava reunido com sua
equipe de desenhistas.
"Pensei: os problemas entre
o Ocidente e os países muçulmanos não começam aqui, vêm
de séculos. Mas o horror aumenta. É preciso fazer esse filme logo", conta.
O longa conta a história de
um garoto loiro e rico, cuja babá (Jenane) tem um filho (Asmar) da mesma idade que ele.
Os meninos crescem como
irmãos, amando-se e brigando
muito, até que o pai de Azur expulsa Jenane e Asmar de casa, e
interna Azur num colégio.
Adulto, Azur cruza o oceano,
para ver de perto o cenário das
histórias que a babá lhe contava
e a reencontra, agora como
uma próspera comerciante.
Com Asmar, ele retoma a relação de amizade e disputas.
O filme foi exibido em mostra paralela do Festival de Cannes 2006, em que a imigração
foi tema de dois filmes concorrentes à Palma de Ouro -"Babel" e "Dias de Glória".
Não fosse uma animação,
"Azur e Asmar" disputaria a
Palma? "Essa questão põe o dedo na ferida. Pergunto se não
sou reconhecido como cineasta
porque faço animação. Mas isso
aos poucos muda. A animação
tem feito progressos com o público", diz. Que o diga "A Era do
Gelo 2", do brasileiro Carlos
Saldanha, líder de bilheteria no
Brasil em 2006.
(SA)
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