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Crítica
Animação recusa linguagem infantil
CRÍTICO DA FOLHA
Antes de os filmes de ficção terem sido dominados pelo império dos
efeitos especiais e da computação gráfica, a animação era quase o único lugar onde a imaginação não precisava obedecer a
limites realistas.
Com a tecnologia, os desenhos animados de grande
sucesso passaram com mais
freqüência a buscar na similitude com a realidade um modo
de se distinguir das ficções fotografadas.
Já o animador francês Michel Ocelot cria seus trabalhos
sem considerar nenhumas dessas mutações. Em seus filmes, o
desenho continua a ser, na forma, tratado como uma criação
artesanal, apesar de utilizar recursos trazidos pela tecnologia.
E, nos temas, uma oportunidade de representar histórias fabulosas, ao criar mundos que
visualmente nunca pretendem
escapar do reino da fantasia.
Em "Azur e Asmar" ele conta
as aventuras de dois garotos,
um europeu loiro e de olhos
azuis e um árabe de cabelos
pretos e pele escura, criados
juntos durante a Idade Média.
O destino se encarregará de
separá-los e de reuni-los de novo sob os lemas da coragem e da
audácia. Há intencionalmente
um conteúdo político na história, por meio do qual Ocelot se
posiciona contra qualquer tipo
de oposição conflitante entre
Ocidente e Oriente, cristãos e
muçulmanos -duas culturas
que se complementam, apesar
das diferenças.
Na Idade Média, o desenho
busca as cores e formas dos livros de horas, impressões em
que se registravam os hábitos e
situações dos nobres da época.
Da presença moura na Europa, o filme se inspira nos arabescos arquitetônicos e decorativos para traduzir visualmente
um universo que parece saído
das histórias contadas em "Mil
e Uma Noites".
Ao se recusar a tratar a animação como uma linguagem
infantil, pois, segundo ele, "as
crianças não ganham nada com
os filmes que são pensados unicamente para elas", Ocelot garante que os olhos dos públicos
de qualquer idade se arregalem
sob a força da imaginação.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
AS AVENTURAS DE AZUR E ASMAR
Direção: Michel Ocelot
Produção: França, 2006
Quando: estréia hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex, Bombril,
Reserva Cultural e circuito
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