São Paulo, sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

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Crítica/"Déjà Vu"

Trama tenta se apoiar na "ciência" e no elenco estrelado

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Viajar no tempo é coisa que muitos filmes resolvem sem muita cerimônia científica: passa-se por um portal ou entra-se em uma máquina construída num laboratório de fundo de quintal e pronto, vai-se logo ao que interessa -em geral, a possibilidade de interferir no passado e enfrentar o paradoxo de alterar também o futuro do qual vêm os personagens, inviabilizando assim a própria viagem.
Não é o caso de "Déjà Vu", que morreria de vergonha de ser um "filme B". Com toda a pompa e circunstância, ele apresenta um dispositivo de tecnologia de ponta (que lembra um pouco "Minority Report"), e, para explicá-lo, encena um inacreditável diálogo pretensamente científico entre um investigador de Nova Orleans, Doug (Denzel Washington), e uma equipe de gênios do governo federal.
O que faz Doug, solitário homem das ruas, típico personagem dos seriados de investigação criminal da TV, no meio dessa gente que parece saída de "Contato"? Como se desgraça pouca fosse bobagem, Nova Orleans sofre, logo depois da tragédia do furacão Katrina, um atentado terrorista que mata mais 500 pessoas. Washington envia uma equipe especial para apurar o caso, da qual faz parte um boa praça (Val Kilmer).
Em paralelo ao atentado, é encontrado o corpo de uma jovem (Paula Patton). Doug acredita que uma coisa tenha a ver com a outra e, graças a essa pista, a trama avança. O título se refere a uma ilusão da memória já tratada pela literatura científica e que leva alguém a sentir já ter visto e vivido determinada situação que, no entanto, lhe é inédita. No filme, a dúvida gira em torno da palavra "ilusão".
Sempre lembrado (e "Déjà Vu" ajuda a entender por que) como o irmão mais novo de Ridley Scott, o diretor Tony Scott ("Ases Indomáveis", "Dias de Trovão") cuida da ação com um zelo especial pelo frágil castelo de cartas da viagem no tempo, mas não tanto que o impeça de se concentrar, com o habitual padrão de eficiência do gênero em Hollywood, no corre-corre e na tensão provocada por ele.
E há, claro, Denzel Washington, legítimo representante no cinema industrial norte-americano do que é, como pilar de sustentação para um filme, o "star system". Scott já havia trabalhado com ele em "Maré Vermelha" (1995) e "Chamas da Vingança" (2004). A trama de "Déjà Vu" pode parecer boba, mas a preferência por Washington mostra que seu diretor não é.


DÉJÀ VU   
Direção: Tony Scott
Produção: EUA, 2006
Com: Denzel Washington, Val Kilmer, Paula Patton
Quando: estréia hoje nos cines Morumbi, Eldorado e circuito


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