São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRECHO

Ele estava junto à janela da varanda e observava atentamente a rua. Era baixo, meio careca, magricela. A sua figura contrastava com as feições do rosto, esculpidas com golpes vigorosos de cinzel, como se Deus as tivesse trabalhado com ira e impaciência. Era um rosto de camponês das velhas telas de Kotsis ou de Chelmonski, em que a força se confundia com a tolice. Estava então junto à janela da varanda observando atentamente a rua defronte da casa e sentia uma dor no coração. Por muito tempo, um tempo inacreditável, ele tinha conseguido ficar longe do fluxo dos acontecimentos, permanecendo na margem seca. Não era covarde, simplesmente não estava muito interessado. (...) Anos depois iria se verificar que todos, sem exceção, estavam interessados. (...) Fazia parte daquele grupo de pessoas que receberam com pesar a perda da independência.

Extraído de "A Bela Senhora Seidenman", de Andrzej Szczypiorski


Texto Anterior: Livros - Crítica/"A Bela Senhora Seidenman": Romance envolve leitor com personagens do extermínio
Próximo Texto: Vitrine
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.