São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Crítica/show

Elton John volta retrô e protocolar

No Anhembi com 29 mil pessoas, cantor inglês ignora a atual fase criativa e segue roteiro com hits fáceis e sem surpresas

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um repertório repleto de canções lindas, um Anhembi quase lotado, com 29 mil pessoas, e um São Pedro bonzinho, que mandou apenas uma suave garoa, não foram suficientes para fazer do primeiro megashow de 2009 uma experiência memorável. Longe disso.
Em sua segunda vez no Brasil (a primeira foi em 1995), o espetáculo comandado por Elton John anteontem em São Paulo -e que o Rio vê hoje na praça da Apoteose- prometia muito.
O cantor e pianista britânico, um dos maiores nomes do pop, passa por momento inspirado na carreira.
Nos últimos dez anos, lançou três discos elogiadíssimos ("Songs from The West Coast", "Peachtree Road" e "The Captain & The Kid"), motivou dois dos videoclipes mais bonitos de sua trajetória ("I Want Love" e "This Train Don't Stop There Anymore") e coescreveu um dos hits do Scissor Sisters ("I Don't Feel Like Dancin'"). Só que tudo isso foi ignorado. Elton fez uma retrospectiva que começava no fim dos anos 60 e terminava inexplicavelmente no meio da década de 90. Para quem já tinha dado uma olhada em shows recentes, nem chegou a ser uma surpresa. Na atual turnê "Rocket Man", o cantor segue um roteiro rígido, cujas músicas não mudam sequer de lugar.
Só houve um momento em que Elton fugiu do script. Foi no primeiro número do bis. Em vez de cantar "Pinball Wizard", ele mandou "Skyline Pigeon", faixa de seu primeiro LP que integrou a trilha sonora da telenovela "Carinhoso", em 1974, e por isso fez mais sucesso aqui do que em qualquer outro país.
Sem o acompanhamento de seu quinteto, o inglês quase arrebatou com essa. Mas derrapou feio nas notas finais. Ele não tem mais os agudos nem a energia de outrora. Fez uma graça subindo em cima do piano no início do show, pediu palmas e caminhou pelo palco com seu fraque com estampas tropicais. Mas foi protocolar na maior parte do tempo.
O público respondia com apatia. "The Bitch Is Back", um dos melhores rock compostos por Elton, foi cantada por cerca de 30 pessoas -somando as plateias "premium" e "normal". A faixa de abertura de "Goodbye Yellow Brick Road", seu álbum mais cultuado, foi recebida como canção inédita.
Já com as músicas ruins a plateia mostrou intimidade. A baba "Sacrifice", que soa ainda mais cafona hoje do que quando infestava as rádios, ganhou até corinho. E na oitentista "I'm Still Standing", a 20ª do set, o público se animou a dançar pela primeira vez na noite. O telão disposto atrás da banda foi um show à parte. Projetava imagens minimalistas que ajudavam a explicar as composições. Em "Crocodile Rock", por exemplo, um crocodilo abria e fechava a boca. Talvez um pano de fundo vermelho tivesse sido mais digno. Claro que baladas como "Tiny Dancer" e "Daniel", grooves como os de "Bennie and The Jets" e "Honky Cat" e o riff poderoso de "Saturday Night's Alright for Fighting" aliviam.
Mas SP não viu um grande show de Elton John. E, se não foi dessa vez, não dá para imaginar quando será.



ELTON JOHN
Quando: hoje, às 20h, no Rio
Onde: pça. da Apoteose (r. Marquês de Sapucaí, s/nº; Rio)
Quanto: R$ 250 (pista/arquibancada)
Classificação indicativa: livre (menores de 18 devem levar autorização)
Avaliação: regular




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