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Crítica/show
Elton John volta retrô e protocolar
No Anhembi com 29 mil pessoas, cantor inglês ignora a atual fase criativa e segue roteiro com hits fáceis e sem surpresas
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um repertório repleto
de canções lindas, um
Anhembi quase lotado,
com 29 mil pessoas, e um São
Pedro bonzinho, que mandou
apenas uma suave garoa, não
foram suficientes para fazer do
primeiro megashow de 2009
uma experiência memorável.
Longe disso.
Em sua segunda vez no Brasil
(a primeira foi em 1995), o espetáculo comandado por Elton
John anteontem em São Paulo
-e que o Rio vê hoje na praça
da Apoteose- prometia muito.
O cantor e pianista britânico,
um dos maiores nomes do pop,
passa por momento inspirado
na carreira.
Nos últimos dez anos, lançou
três discos elogiadíssimos
("Songs from The West Coast",
"Peachtree Road" e "The Captain & The Kid"), motivou dois
dos videoclipes mais bonitos de
sua trajetória ("I Want Love" e
"This Train Don't Stop There
Anymore") e coescreveu um
dos hits do Scissor Sisters ("I
Don't Feel Like Dancin'"). Só
que tudo isso foi ignorado.
Elton fez uma retrospectiva
que começava no fim dos anos
60 e terminava inexplicavelmente no meio da década de
90. Para quem já tinha dado
uma olhada em shows recentes,
nem chegou a ser uma surpresa. Na atual turnê "Rocket
Man", o cantor segue um roteiro rígido, cujas músicas não
mudam sequer de lugar.
Só houve um momento em
que Elton fugiu do script. Foi
no primeiro número do bis. Em
vez de cantar "Pinball Wizard",
ele mandou "Skyline Pigeon",
faixa de seu primeiro LP que integrou a trilha sonora da telenovela "Carinhoso", em 1974, e
por isso fez mais sucesso aqui
do que em qualquer outro país.
Sem o acompanhamento de
seu quinteto, o inglês quase arrebatou com essa. Mas derrapou feio nas notas finais.
Ele não tem mais os agudos
nem a energia de outrora. Fez
uma graça subindo em cima do
piano no início do show, pediu
palmas e caminhou pelo palco
com seu fraque com estampas
tropicais. Mas foi protocolar na
maior parte do tempo.
O público respondia com
apatia. "The Bitch Is Back", um
dos melhores rock compostos
por Elton, foi cantada por cerca
de 30 pessoas -somando as
plateias "premium" e "normal". A faixa de abertura de
"Goodbye Yellow Brick Road",
seu álbum mais cultuado, foi
recebida como canção inédita.
Já com as músicas ruins a
plateia mostrou intimidade. A
baba "Sacrifice", que soa ainda
mais cafona hoje do que quando infestava as rádios, ganhou
até corinho. E na oitentista
"I'm Still Standing", a 20ª do
set, o público se animou a dançar pela primeira vez na noite.
O telão disposto atrás da banda foi um show à parte. Projetava imagens minimalistas que
ajudavam a explicar as composições. Em "Crocodile Rock",
por exemplo, um crocodilo
abria e fechava a boca. Talvez
um pano de fundo vermelho tivesse sido mais digno.
Claro que baladas como
"Tiny Dancer" e "Daniel", grooves como os de "Bennie and
The Jets" e "Honky Cat" e o riff
poderoso de "Saturday Night's
Alright for Fighting" aliviam.
Mas SP não viu um grande
show de Elton John. E, se não
foi dessa vez, não dá para imaginar quando será.
ELTON JOHN
Quando: hoje, às 20h, no Rio
Onde: pça. da Apoteose (r. Marquês de Sapucaí, s/nº; Rio)
Quanto: R$ 250 (pista/arquibancada)
Classificação indicativa: livre (menores de 18 devem levar autorização)
Avaliação: regular
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