São Paulo, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

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Rio recebe gravuras fantásticas de Escher

Artista holandês usou lógica para criar espaços e mundos impossíveis

Primeiras gravuras de Escher, em estilo art déco, e suas famosas alegorias geométricas estão no CCBB carioca

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Numa série de ilustrações que fez para o livro de um amigo em 1921, Maurits Cornelis Escher esboçou todas as formas que pautaram sua produção ao longo da vida. Era uma espécie de catálogo em que ilustrou visões da natureza, perspectiva, reflexos, ladrilhamentos e também noções mais abstratas, como eternidade e infinito. Mas no conjunto da obra desse artista holandês, agora reunido em mostra no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, fica claro que um lado não anula o outro, casando matemática e ilusionismo. Ele é o homem que criou espaços impossíveis, salas que embaralham teto e paredes, cascatas que correm contra a gravidade, torres infinitas e reflexos macabros. Também inventou padrões geométricos que tomam formas orgânicas, seres estranhos que desafiam a lógica. "Nas minhas gravuras eu tento mostrar que vivemos em um mundo belo e ordenado, e não em um caos sem regras", escreveu Escher. "Tenho grande prazer em confundir dimensões, plana e espacial, ignorar a gravidade." Escher mergulhou na lógica para depois destroçar sua exatidão. Entendia a ciência dos reflexos e da perspectiva de ponto único desde que observava estrelas no céu com o telescópio que ganhou do pai, mas manteve ao longo da vida uma obsessão por padrões e alegorias surreais. Chegou a dizer que se sentia tomado pelas formas que inventava. "Ao desenhar, me sinto como um médium espírita, controlado pelos entes que incorporo", escreveu o artista. "É como se eles próprios decidissem a forma em que desejam aparecer." E, nesse plano das formas, a mostra que está no Rio deixa ver a evolução desse pensamento, das paisagens realistas que fez no início da carreira e suas primeiras gravuras sob influência da art déco até chegar a suas complexas séries de ladrilhamentos. Eram composições geométricas que ilustram a metamorfose de campos em pássaros, cidades inteiras em bonecos chineses e afins. Essa repetição obsessiva e constantes recursos à matemática pura distanciaram Escher das belas artes mais tradicionais, relegando esse artista ainda hoje a um segundo plano na história da arte. Mas um olhar atento revela outros anseios por trás de sua produção. Foi capaz de juntar com certa graça realismo e ilusão total, antecipar truques do cinema e deixar seu público embasbacado, tanto que estudiosos ainda se esforçam para decifrar seus mundos impossíveis.


O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da produção da mostra.


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