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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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Almanaque em preto-e-branco

Divulgação
Beatriz Costa, Oscarito e Walter D'Ávila em espetáculo do teatro de revista em 1942



"Importado" da França e ignorado pela memória nacional, o teatro de revista tem sua história recuperada


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do humor ligeiro que lhe é peculiar, o teatro de revista segue vítima de lentidão quando o assunto é memória e consequente valoração estética.
O gênero popular, "importado" da França em meados do século 19, teve seu auge na cidade do Rio de Janeiro dos anos 20 e 30 (leia-se praça Tiradentes) e começou a declinar nos 60.
O teatro de revista pode ser definido como uma sequência de quadros cômicos estruturados em prosa, músicas e coreografias. No início, os espetáculos passavam o ano em revista, ou melhor, em pilhérias sobretudo políticas. Depois, foram calcados no aqui e agora, nos fatos instantâneos imediatamente transformados em números humorísticos com vedetes e tipos cômicos como o "compére", o compadre, espécie de mestre de cerimônias.
O livro "Fora do Sério - Um Panorama do Teatro de Revista no Brasil", de Delson Antunes (11º volume da série História Visual da Fundação Nacional de Arte, a Funarte) vem somar-se a contribuições recentes de pesquisadores como Neyde Veneziano, Salviano Cavalcanti de Paiva e Roberto Ruiz.
A obra de Antunes (ainda sem data de lançamento) diminui a defasagem histórica em relação ao gênero, célula-mãe de compositores e intérpretes da MPB (Ary Barroso, Lamartine Babo, Sinhô, Custódio Mesquita, Chiquinha Gonzaga, Araci Cortes etc.) e das chanchadas produzidas pela companhia cinematográfica Atlântida (Grande Otelo, Oscarito, Mesquitinha, Dercy Gonçalves, Costinha etc.).
"Há menos preconceito, mais estudos que trazem a história à luz do que ela merece. Até anos atrás, havia resistência quanto ao gênero dentro da própria classe teatral ou mesmo entre os historiadores, que davam pouca dimensão justamente aos espetáculos que tinham mais público em sua época", afirma Antunes, 43.
Filha dos atores e revisteiros Manuel Pêra e Dinorah Marzullo, Marília Pêra, 60, diz conhecer bem esse tipo de resistência a espetáculos de cunho popular. "Muita gente ainda se refere à revista como um gênero sepultado", afirma a atriz que, aos 16 anos, já atuava como bailarina em "De Cabral a JK" (1959), sátira da dupla Max Nunes e J. Maia à história do Brasil.

Fora do Rio
Antunes inclui em seu livro um panorama do teatro de revista que irradia do Rio para outros Estados, inclusive São Paulo, onde está por ser estudada a leva de espetáculos que miravam a cultura caipira.
O autor já havia defendido mestrado em 1995 sobre a Companhia de Revistas e Sainetes Tro-lo-ló, destaque da cena carioca nos anos 20 (criada por Patrocínio Filho e Jardel Jércolis, este pai do ator Jardel Filho).
Jércolis chegou a fazer o caminho inverso do gênero francês, apresentando-se com sua trupe em Paris.
"Fora do Sério" se propõe a resgatar a trajetória do teatro de revista brasileiro por meio das imagens. São 500 fotos, em ordem cronológica, garimpadas durante três anos nos arquivos da Funarte, MIS, Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional e em acervos pessoais das famílias dos artistas.


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